• tacet: BOI MORTO

    30.3.19

    BOI MORTO

    Como em turvas águas de enchente,
    Me sinto a meio submergido
    Entre destroços do presente
    Dividido, subdividido,
    Onde rola, enorme, o boi morto,

    Boi morto, boi morto, boi morto.

    Árvores da paisagem calma,
    Convosco – altas, tão marginais! –
    Fica a alma, a atônita alma,
    Atônita para jamais.
    Que o corpo, esse vai com o boi morto,

    Boi morto, boi morto, boi morto.

    Boi morto, boi descomedido,
    Boi espantosamente, boi
    Morto, sem forma ou sentido
    Ou significado. O que foi
    Ninguém sabe. Agora é boi morto,

    Boi morto, boi morto, boi morto!

    Manuel Bandeira – 1951

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