O Abismo
Pascal em si tinha um abismo se movendo.
— Ai!, tudo é abismo! — sonho, ação, desejo intenso,
Palavra! E sobre mim, num calafrio, eu penso
Sentir do Medo o vento às vezes se estendendo.
Em volta, do alto, embaixo, a profundeza, o denso
Silêncio, a tumba, o espaço cativante e horrendo...
Em minhas noites, Deus, o sábio dedo erguendo,
Desenha um pesadelo multiforme e imenso.
Tenho medo do sono, o túnel que me esconde,
Cheio de vago horror, levando não sei aonde;
Do infinito, à janela, eu gozo os cruéis prazeres,
E meu espírito, ébrio afeito ao desvario,
Ao nada inveja a insensibilidade e o frio.
— Ah, não sair jamais dos Números e Seres!
BAUDELAIRE, Charles. 1821-1867. O abismo (em) Poesia e prosa: volume único / Charles Baudelaire. Rio de
Janeiro: Nova Aguilar, 1995.
Na leitura de:
MUTARELLI, Lourenço. Capa Preta / Lourenço Mutarelli. Revisão: Alexandre Barbosa de Souza & Thiago Ferreira. -- São Paulo: Comix Zone!, 2019.
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