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TOLSTÓI, Lev, 1828-1910. Khadji-Muráv / Lev Tolstói; tradução, prefácio e notas de Boris Schnaidermann; inclui o ensaio “Tolstói: antiarte e rebeldia”, de Boris Schnaiderman. — São Paulo: Editora 34 (1a Edição), 2017.
“Para que milhões de homens se matavam, quando se sabe, desde a criação do mundo, que isso é física e moralmente ruim?
Pelo fato de que isso era tão inevitavelmente necessário que, cumprindo isso, os homens cumpriam aquela lei natural, zoológica, que cumprem as abelhas, destruindo-se por volta do outono, e pela qual os machos dos animais se destroem entre si. Não se pode dar outra resposta a esta terrível pergunta.
Esta verdade não é apenas evidente, mas é tão inata em cada ser humano que nem valeria a pena demonstrá-la, se o homem não tivesse outro sentimento e consciência, que o convence de que ele é livre em todo momento em que pratica alguma ação.
Examinando a história de um ponto de vista geral, ficamos plenamente convictos da lei eterna, segundo a qual os acontecimentos se processam. Olhando de um ponto de vista pessoal, convence-nos do contrário. [...]
A relação mais forte e indissolúvel, a mais pesada e constante com outras pessoas, é o assim chamado poder sobre as pessoas, que, em seu sentido autêntico, consiste apenas em maior dependência em relação a estas.
Erroneamente ou não, mas tendo me convencido plenamente disso no decorrer do meu trabalho, naturalmente ao descrever os acontecimentos históricos de 1805, 1807 e sobretudo 1812, ano em que aparece com maior relevo esta lei da predeterminação, não pude atribuir importância à atuação daquelas pessoas que tinham a impressão de governar os acontecimentos, e, no entanto, menos do que todos os demais participantes contribuíam para isto com a atividade humana livre. A atividade dessas pessoas apresentava interesse para mim unicamente no sentido da ilustração daquela lei da predeterminação, que, segundo minha convicção, dirige a história, e daquela lei psicológica que obriga um homem, que realiza a ação menos livre, a falsificar em sua imaginação toda uma série de conclusões retrospectivas, que têm a finalidade de demonstrar a ele mesmo a sua liberdade.”
Tolstói sobre Guerra e paz, citado no ensaio de Schnaiderman.
re-leitura de:
SCHNAIDERMAN, Boris. Dostoiévski: Prosa Poesia. Boris Schnaiderman. São Paulo: Editora Perspectiva: 1982.
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