Os Filhos de El Topo • Alejandro Jodorowsky • José Ladrönn
No árido Oeste, El Topo foi um bandido que, ao abrir as portas do seu coração, transformou-se em um santo capaz de realizar grandes milagres. De duas mulheres diferentes, teve dois filhos. Figura funesta de couro preto a vagar pelo deserto, Caim, o maldito, jurou matar o pai, a quem nunca perdoou. Incapaz de levar a cabo a sua vingança, decide então voltar sua fúria contra seu meio-irmão Abel. E neste oeste selvagem, tingido de misticismo, todos que cruzarem seu caminho serão vítimas colaterais…
Foi no início dos anos 1970, à meia-noite em ponto, durante um festival de cinema, que Elguim, em um cinema de filmes pornográficos, projetou El Topo, de Alejandro Jodorowsky, à meia-noite. Imediatamente aclamado pela crítica, o filme deu origem ao movimento dos Midnight Movies e gerou um verdadeiro culto entre os cinéfilos do mundo inteiro (criando coisas como a Seção Dupla do Comodoro em São Paulo, com Carlão [Carlos Reichenbach], no CineSesc, que estreou já com um Jodorowsky: Santa Sangre. Assim como o próprio Jodorowsky em São Paulo, assistindo todos os seus filmes junto com o público, na pequena Sala do CCBB, e dando palestras, junto com chamadas de pessoas para uma espécie de psicanálise mistica transcendental, fazendo pessoas que eu sempre via entrarem em uma profundidade emocional). Ainda hoje, o filme mantém sua grandiosidade e status de obra mítica. Quase meio século depois, Alejandro Jodorowsky decide contar sua continuação… em quadrinhos. Graças ao traço virtuoso de José Ladrönn, ele nos oferece um faroeste alegórico e surrealista em que, como é frequente no genial criador chileno, o gênero serve a profundas reflexões filosóficas e espirituais.
Originalmente publicado em três volumes entre 2016 e 2022, Os Filhos de El Topo finalmente desembarca no Brasil em uma edição integral de luxo. O livro tem formato grande, capa dura, verniz localizado, 232 páginas em cores, impressas em papel offset de alta gramatura. Recomendado para maiores de 18 anos.
Alejandro Jodorowsky viveu tantas vidas que um livro não bastaria para resumi-las todas. Chegando a Paris de seu país natal, o Chile, em 1953, foi sucessivamente marionetista, artista de circo, dramaturgo, diretor, poeta, romancista e ensaísta. Apaixonado por filosofia, psicanálise e esoterismo, acompanhou o movimento surrealista, depois fundou o grupo Panique com Arrabal e Topor. Criou igualmente o Cabaret Mystique, uma espécie de ágora moderna e itinerante onde se misturam zen, artes marciais, misticismo transcendental, psicanálise e tradição chilena. Apaixonado por imagens e pela escrita, é quase lógico que seu caminho cruzasse o das histórias em quadrinhos. Faz uma primeira incursão em 1966 (Anibal 5, produzida com Moro), mas é o encontro com Mœbius, em 1975, que estimula de modo mais duradouro seu interesse pelos quadros e balões. Jodorowsky conhece o desenhista durante um projeto de adaptação cinematográfica de Duna, de Frank Herbert, que jamais veria a luz do dia. Paradoxalmente, da interrupção dessa criação nascerá uma obra única no gênero, que mistura ficção científica, esoterismo e simbolismo alquímico. O Incal irá por sua vez engendrar um universo que contribuiu para a era de ouro da Métal Hurlant, da (À Suivre) e da Humanoïdes Associés.
José Ladrönn nasceu no México, em 1967. Entre as leituras que o marcaram, cita as Fábulas Pânicas de Jodorowsky, o Necronomicon de H.R. Giger e também O Incal de Jodorowsky e Mœbius. Para além dos quadrinhos, dedica uma boa parte do seu tempo a outra paixão: a pintura. Ladrönn cria obras gigantescas, terríveis e sobrenaturais. Em 1996, começa a trabalhar para a Marvel com uma história curta do Blade. Em seguida, vieram trabalhos com Cable, Thor, Quarteto Fantástico, Inumanos, entre muitos outros trabalhos para inúmeros editores. Desiludido com o ritmo alucinante imposto pelo sistema de produção editorial norte-americano, rompe com os grandes grupos e trabalha em um quadrinho independente: Hip Flask. Durante o ano 2000, em Los Angeles, teve um encontro miraculoso com Jodorowsky, do qual surgirá a história curta As Lágrimas de Ouro, publicada na Métal Hurlant n.º 145 em 2004. Este encontro também possibilitou a realização de um sonho: retomar o personagem John Difool para um novo ciclo de aventuras. Renova sua colaboração com o autor chileno, em 2008, para o ciclo Incal Final com os Humanoïdes Associés.
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