Bertolt Brecht/Poemas 1913-1956/Paulo César de Souza/continua
1926-1933
AO CAMARADA DIMITROFF, QUANDO LUTOU DIANTE DO TRIBUNAL FASCISTA EM LEIPZIG
Camarada Dimitroff?
Desde o dia em que lutas diante do tribunal fascista
A voz do comunismo, cercada pelos bandos de matadores e bandidos da SA
Através do ruído dos chicotes e cassetetes
Fala bem alto e nítido
No centro da Alemanha.
Voz que pode ser ouvida em todas as nações da Europa
Que através das fronteiras ouvem o que vem
Do escuro, elas mesmas no escuro
Mas também pode ser ouvida
Por todos os explorados e espancados e
Incorrigíveis lutadores
Na Alemanha.
Com avareza utilizas, camarada Dimitroff, cada minuto
Que te é dado, e o pequeno lugar que
Ainda é público, utiliza-o
Para nós todos.
Mal dominando a língua que não é a tua
Sempre advertido aos gritos
Várias vezes arrastado para fora
Enfraquecido com as algemas
Fazes repetidamente as perguntas temidas
Incrimina os criminosos e
Leva-os a gritar e a te arrastar e assim
Confessar que não têm razão, apenas força
E que podem te matar, mas nunca te vencer.
Pois, assim como tu, resistem a essa força
Embora não tão visíveis
Milhares de combatentes, mesmo os
Ensanguentados em suas celas
Que podem ser abatidos
Mas nunca vencido.
Assim como tu, suspeitos de combater a fome
Acusados de revolta contra exploradores
Incriminados por lutar contra a opressão
Convictos
Da causa mais justa.
ELOGIO DO APRENDIZADO
Aprenda o mais simples! Para aqueles
Cuja hora chegou
Nunca é tarde demais!
Aprenda o ABC; não basta, mas
Aprenda! Não desanime!
Comece! É preciso saber tudo!
Você tem que assumir o comando!
Aprenda, homem no asilo!
Aprenda, homem na prisão!
Aprenda, mulher na cozinha!
Aprenda, ancião!
Você tem que assumir o comando!
Freqüente a escola, você que não tem casa!
Adquira conhecimento, você que sente frio!
Você que tem fome, agarre o livro: é uma arma.
Você tem que assumir o comando.
Não se envergonhe de perguntar, camarada!
Não se deixe convencer
Veja com seus olhos!
O que não sabe por conta própria
Não sabe.
Verifique a conta
É você que vai pagar.
Ponha o dedo sobre cada item
Pergunte: O que é isso?
Você tem que assumir o comando.
ELOGIO DO PARTIDO
O indivíduo tem dois olhos
O Partido tem mil olhos.
O Partido vê sete Estados
O indivíduo vê uma cidade.
O indivíduo tem sua hora
Mas o Partido tem muitas horas.
O indivíduo pode ser liquidado
Mas o Partido não pode ser liquidado.
Pois ele é a vanguarda das massas
E conduz a sua luta
Com os métodos dos Clássicos, forjados a partir
Do conhecimento da realidade.
MAS QUEM É O PARTIDO?
Mas quem é o partido?
Ele fica sentado em uma casa com telefones?
Seus pensamentos são secretos, suas decisões desconhecidas?
Quem é ele?
Nós somos ele.
Você, eu, vocês – nós todos.
Ele veste sua roupa, camarada, e pensa com a sua cabeça
Onde moro é a casa dele, e quando você é atacado ele luta.
Mostre-nos o caminho que devemos seguir, e nós
O seguiremos como você, mas
Não siga sem nós o caminho correto
Ele é sem nós
O mais errado.
Não se afaste de nós!
Podemos errar, e você pode ter razão, portanto
Não se afaste de nós!
Que o caminho curto é melhor que o longo, ninguém
nega
Mas quando alguém o conhece
E não é capaz de mostrá-lo a nós, de que nos serve sua sabedoria?
Seja sábio conosco!
Não se afaste de nós!
ALEMANHA
Que outros falem de sua vergonha,
eu falo da minha
Ó Alemanha, pálida mãe!
Como apareces manchada
Entre as nações.
Entre os imundos
Te destacas.
De teus filhos o mais pobre
Jaz abatido.
Quando sua fome era grande
Teus outros filhos
Ergueram a mão contra ele.
Isto ficou notório.
Com as mãos assim erguidas
Erguidas contra seu irmão
Passeiam insolentes à tua volta
E riem na tua cara.
Isto é sabido.
Em tua casa
Grita-se alto a mentira
Mas a verdade
Tem que calar.
Então é assim?
Por que te louvam os opressores em roda, mas
Os oprimidos te acusam?
Os explorados
Te apontam com o dedo, mas
Os exploradores elogiam o sistema
Engenhado em tua casa!
E nisso te vêem todos
Esconderes a barra do vestido, ensanguentada
Do sangue do teu
Melhor filho.
Ouvindo as falas que vêm da tua casa, rimos.
Mas quem te vê, corre a pegar a faca
Como à vista de um facínora.
Ó Alemanha, pálida mãe!
Como te trataram teus filhos
Que assim apareces entre os povos
Um escárnio e um pavor!
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