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    19.6.25

    Bertolt Brecht/Poemas 1913-1956/Paulo César de Souza/continua

    BRECHT, Bertolt. 1898-1956. Poemas 1913-1956 / Bertolt Brecht (Eugen Bertholt Friedrich Brecht); seleção, tradução e comentário de Paulo César de Souza; texto de 2a e 3a capa Willi Bolle.  São Paulo: Editora 34, 2012.

    1926-1933

    AO CAMARADA DIMITROFF, QUANDO LUTOU DIANTE DO TRIBUNAL FASCISTA EM LEIPZIG

    Camarada Dimitroff?

    Desde o dia em que lutas diante do tribunal fascista
    A voz do comunismo, cercada pelos bandos de matadores e bandidos da SA
    Através do ruído dos chicotes e cassetetes
    Fala bem alto e nítido
    No centro da Alemanha.

    Voz que pode ser ouvida em todas as nações da Europa
    Que através das fronteiras ouvem o que vem
    Do escuro, elas mesmas no escuro
    Mas também pode ser ouvida

    Por todos os explorados e espancados e
    Incorrigíveis lutadores
    Na Alemanha.
    Com avareza utilizas, camarada Dimitroff, cada minuto
    Que te é dado, e o pequeno lugar que

    Ainda é público, utiliza-o
    Para nós todos.

    Mal dominando a língua que não é a tua
    Sempre advertido aos gritos
    Várias vezes arrastado para fora

    Enfraquecido com as algemas
    Fazes repetidamente as perguntas temidas

    Incrimina os criminosos e
    Leva-os a gritar e a te arrastar e assim

    Confessar que não têm razão, apenas força
    E que podem te matar, mas nunca te vencer.

    Pois, assim como tu, resistem a essa força
    Embora não tão visíveis
    Milhares de combatentes, mesmo os

    Ensanguentados em suas celas
    Que podem ser abatidos
    Mas nunca vencido.
    Assim como tu, suspeitos de combater a fome

    Acusados de revolta contra exploradores
    Incriminados por lutar contra a opressão
    Convictos
    Da causa mais justa. 

    ELOGIO DO APRENDIZADO

    Aprenda o mais simples! Para aqueles
    Cuja hora chegou
    Nunca é tarde demais!
    Aprenda o ABC; não basta, mas

    Aprenda! Não desanime!
    Comece! É preciso saber tudo!
    Você tem que assumir o comando!

    Aprenda, homem no asilo!
    Aprenda, homem na prisão!
    Aprenda, mulher na cozinha!
    Aprenda, ancião!
    Você tem que assumir o comando!
    Freqüente a escola, você que não tem casa!

    Adquira conhecimento, você que sente frio!
    Você que tem fome, agarre o livro: é uma arma.
    Você tem que assumir o comando.

    Não se envergonhe de perguntar, camarada!
    Não se deixe convencer
    Veja com seus olhos!
    O que não sabe por conta própria

    Não sabe.
    Verifique a conta
    É você que vai pagar.
    Ponha o dedo sobre cada item

    Pergunte: O que é isso?
    Você tem que assumir o comando.

    ELOGIO DO PARTIDO

    O indivíduo tem dois olhos
    O Partido tem mil olhos.
    O Partido vê sete Estados
    O indivíduo vê uma cidade.
    O indivíduo tem sua hora
    Mas o Partido tem muitas horas.
    O indivíduo pode ser liquidado
    Mas o Partido não pode ser liquidado.

    Pois ele é a vanguarda das massas
    E conduz a sua luta
    Com os métodos dos Clássicos, forjados a partir

    Do conhecimento da realidade. 

    MAS QUEM É O PARTIDO?

    Mas quem é o partido?
    Ele fica sentado em uma casa com telefones?

    Seus pensamentos são secretos, suas decisões desconhecidas?
    Quem é ele?

    Nós somos ele.
    Você, eu, vocês – nós todos.
    Ele veste sua roupa, camarada, e pensa com a sua cabeça

    Onde moro é a casa dele, e quando você é atacado ele luta.

    Mostre-nos o caminho que devemos seguir, e nós
    O seguiremos como você, mas
    Não siga sem nós o caminho correto
    Ele é sem nós

    O mais errado.
    Não se afaste de nós!
    Podemos errar, e você pode ter razão, portanto

    Não se afaste de nós!

    Que o caminho curto é melhor que o longo, ninguém nega
    Mas quando alguém o conhece
    E não é capaz de mostrá-lo a nós, de que nos serve sua sabedoria?

    Seja sábio conosco!
    Não se afaste de nós!

    ALEMANHA 

    Que outros falem de sua vergonha,
    eu falo da minha

    Ó Alemanha, pálida mãe!
    Como apareces manchada
    Entre as nações.
    Entre os imundos

    Te destacas.

    De teus filhos o mais pobre
    Jaz abatido.
    Quando sua fome era grande

    Teus outros filhos

    Ergueram a mão contra ele.
    Isto ficou notório.

    Com as mãos assim erguidas
    Erguidas contra seu irmão
    Passeiam insolentes à tua volta
    E riem na tua cara.
    Isto é sabido.

     

    Em tua casa
    Grita-se alto a mentira

    Mas a verdade
    Tem que calar.
    Então é assim?

    Por que te louvam os opressores em roda, mas
    Os oprimidos te acusam?
    Os explorados
    Te apontam com o dedo, mas

    Os exploradores elogiam o sistema
    Engenhado em tua casa!

    E nisso te vêem todos
    Esconderes a barra do vestido, ensanguentada

    Do sangue do teu
    Melhor filho.

    Ouvindo as falas que vêm da tua casa, rimos.
    Mas quem te vê, corre a pegar a faca
    Como à vista de um facínora.

    Ó Alemanha, pálida mãe!
    Como te trataram teus filhos
    Que assim apareces entre os povos

    Um escárnio e um pavor!

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