Bertolt Brecht/Poemas 1913-1956/Paulo César de Souza/continua
FACILIDADE
Vejam só a facilidade
Com que o rio poderoso
Rompe as barragens!
O terremoto
Com mão indolente
Sacode o chão.
O fogo terrível
Toma com graça
A cidade de mil casas
E a devora com gosto:
Um comilão treinado.
O LADRÃO DE CEREJAS
Bem cedo numa manhã, antes do grito do galo
Fui acordado por um assovio e andei até a janela.
Em minha cerejeira — a alvorada tomava o jardim —
Estava sentado um jovem de calça remendada
Que colhia alegremente minhas cerejas. Ao me ver
Acenou com a cabeça. Com ambas as mãos
Tirava as cerejas dos ramos e punha nos bolsos.
Ainda por um bom tempo, novamente deitado
Ouviu-o assoviar sua alegre cançãozinha.
1940
5
Encontro-me na pequena ilha de Lidingö.
Mas há pouco tempo
Tive um pesadelo, sonhei que estava em uma cidade
E descobria que as inscrições das ruas
Eram em alemão. Molhado de suor
Acordei, vi o pinheiro negro diante da janela
E com alívio percebi:
Eu estava num país estrangeiro.
6
Meu filho pequeno me pergunta: devo aprender
matemática?
Para quê, penso em dizer. Que dois pedaços de pão são
mais do que um
Você logo notará.
Meu filho pequeno me pergunta: devo aprender francês?
Para quê, penso em dizer. Esse império está no fim. E
Basta você esfregar a mão na barriga e gemer:
Logo lhe compreenderão.
Meu filho pequeno me pergunta: devo aprender história?
Para quê, penso em dizer. Aprenda a enfiar sua cabeça na terra
Talvez então você escape.
Sim, aprenda matemática, digo
Aprenda francês, aprenda história!
7
Junto à parede pintada de branco
Está a maleta preta com os manuscritos.
Sobre ela, os utensílios de fumar e os cinzeiros de cobre.
A tela de linha chinesa, mostrando o Cético
Está acima dela. Também as máscaras estão aí. E ao lado da cama
Está o pequeno rádio de seis válvulas.
De manhã cedo
Viro o botão e ouço
Os anúncios de vitória de meus inimigos.
8
Fugindo de meus conterrâneos
Cheguei agora à Finlândia.
Amigos que ontem não conhecia
Dispuseram camas em quartos limpos. No rádio
Ouço os anúncios de vitória da escória. Curioso
Observo o mapa do continente. Lá em cima, na Lapônia
Na direção do Mar Ártico
Vejo ainda uma pequena porta.
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