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    12.7.25

    Bertolt Brecht/Poemas 1913-1956/Paulo César de Souza/continua

    BRECHT, Bertolt. 1898-1956. Poemas 1913-1956 / Bertolt Brecht (Eugen Bertholt Friedrich Brecht); seleção, tradução e comentário de Paulo César de Souza; texto de 2a e 3a capa Willi Bolle.  São Paulo: Editora 34, 2012.
    1938-1941

    FACILIDADE

    Vejam só a facilidade
    Com que o rio poderoso
    Rompe as barragens!
    O terremoto

    Com mão indolente
    Sacode o chão.
    O fogo terrível

    Toma com graça
    A cidade de mil casas
    E a devora com gosto:
    Um comilão treinado.

    O LADRÃO DE CEREJAS

    Bem cedo numa manhã, antes do grito do galo
    Fui acordado por um assovio e andei até a janela.
    Em minha cerejeira — a alvorada tomava o jardim —

    Estava sentado um jovem de calça remendada
    Que colhia alegremente minhas cerejas. Ao me ver

    Acenou com a cabeça. Com ambas as mãos
    Tirava as cerejas dos ramos e punha nos bolsos.

    Ainda por um bom tempo, novamente deitado
    Ouviu-o assoviar sua alegre cançãozinha.

    1940

    [...]

    5

    Encontro-me na pequena ilha de Lidingö.
    Mas há pouco tempo
    Tive um pesadelo, sonhei que estava em uma cidade

    E descobria que as inscrições das ruas
    Eram em alemão. Molhado de suor
    Acordei, vi o pinheiro negro diante da janela
    E com alívio percebi:
    Eu estava num país estrangeiro. 

    6

    Meu filho pequeno me pergunta: devo aprender matemática?
    Para quê, penso em dizer. Que dois pedaços de pão são mais do que um
    Você logo notará.
    Meu filho pequeno me pergunta: devo aprender francês?

    Para quê, penso em dizer. Esse império está no fim. E
    Basta você esfregar a mão na barriga e gemer:
    Logo lhe compreenderão.
    Meu filho pequeno me pergunta: devo aprender história?
    Para quê, penso em dizer. Aprenda a enfiar sua cabeça na terra
    Talvez então você escape.

    Sim, aprenda matemática, digo
    Aprenda francês, aprenda história!

    7

    Junto à parede pintada de branco
    Está a maleta preta com os manuscritos.
    Sobre ela, os utensílios de fumar e os cinzeiros de cobre.

    A tela de linha chinesa, mostrando o Cético
    Está acima dela. Também as máscaras estão aí. E ao lado da cama
    Está o pequeno rádio de seis válvulas.

    De manhã cedo
    Viro o botão e ouço
    Os anúncios de vitória de meus inimigos.

    8

    Fugindo de meus conterrâneos
    Cheguei agora à Finlândia.
    Amigos que ontem não conhecia
    Dispuseram camas em quartos limpos. No rádio
    Ouço os anúncios de vitória da escória. Curioso

    Observo o mapa do continente. Lá em cima, na Lapônia
    Na direção do Mar Ártico
    Vejo ainda uma pequena porta.

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