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    12.7.25

    continua/benjamin/passagens/Das Passagen-Werk/continua

    J
    [Baudelaire]
    [...]
    Nadar descreve o traje de Baudelaire, a quem encontra nas proximidades do Hotel Pimodan, onde este morava: “Uma calça preta bem apertada sobre a bota de verniz, um blusão gola rulê azul de pregas novas bem esticadas; como único penteado seus longos cabelos negros, naturalmente cacheados, a roupa branca de algodão brilhante, rigorosamente sem goma, algumas penugens nascendo sob o nariz e no queixo, e luvas cor-de-rosa bem novas... Assim vestido e não penteado, Baudelaire percorria seu bairro e a cidade com um andar aos trancos, nervoso e lânguido ao mesmo tempo, como o de um gato, e escolhendo cada paralelepípedo como se evitasse esmagar um ovo.” Cit. em Firmin Maillard, La Cité des Intellectuels, Paris, 1905, p. 362.
    [J 1a, 3]
    Baudelaire foi  depois da viagem além-mar à qual o obrigaram3  um homem que viajou o mundo.
    [J 1a, 4]
    [...] 
    “A cúpula spleenática do céu”... Charles Baudelaire, Le Spleen de Paris, Paris, Éd. Simon, p. 8 <OC I, p. 283> (“Chacun sa chimère”).
    [J 2a, 6]
    “O catolicismo ... filosófico e literário de Baudelaire precisava de um lugar intermediário ... onde se alojar entre Deus e o Diabo. O título Les Limbes (Os Limbos) marcava essa localização geográfica dos poemas de Baudelaire; permitia perceber melhor a ordem que Baudelaire quis estabelecer entre eles, que é a ordem de uma viagem e, precisamente, de uma quarta viagem, uma quarta viagem depois das três viagens dantescas do Inferno, do Purgatório e do Paraíso. O poeta de Florença continua no poeta de Paris.” Albert Thibaudet, Histoire de la Littérature Française de 1789 à nos Jours, Paris, 1936, p. 325.
    [J 3, 1]
    Sobre o elemento alegórico. “Dickens ... falando dos cafés para onde se retirava nos dias ruins ... comenta sobre um deles que se achava na Saint-Martins Lane: ‘Só me lembro de uma coisa: que ele se situava perto de uma igreja e, na porta, havia um emblema oval de vidro, com a palavra COFFEE ROOM voltada para os transeuntes. Ocorre me ainda hoje, quando me encontro num café completamente diferente, mas onde há também essa inscrição em espelho, que a leio ao inverso (MOOR EEFFOC), como o fazia muitas vezes em meus devaneios sombrios, e o sangue me sobe à cabeça. Esta palavra barroca MOOR EEFFOC é o lema de todo verdadeiro realismo.” G. K. Chesterton, Dickens (Vies des Hommes Illustres, n° 9), traduzido do inglês por Laurent e Martin-Dupont, Paris, 1927, p. 32.
    [J 3, 2]
    Dickens e a estenografia: “Ele conta como, depois de ter aprendido todo o alfabeto, ‘encontrou uma procissão de novos enigmas, os caracteres ditos convencionais, os mais inimagináveis que jamais conheci. Não tinham a pretensão de significar; um deles, por exemplo, que parecia um começo de teia de aranha, significava antecipação; e um outro, espécie de foguete voador, desvantajoso. Ele concluiu: Era quase desesperador. Mas e de se notar que um de seus colegas declarou: Nunca houve um estenografia assim!G. K. Chesterton, Dickens (Vies des Hommes Illustres, n° 9), traduzido do inglês por Laurent e Martin-Dupont, Paris, 1927, pp. 40-41.
    [j 3, 3]
    Valéry, na “Introduction aux Fleurs du Mal” , Paris, 1926, p. XXV, fala de uma combinação de “eternidade e intimidade” em Baudelaire.
    [J 3, 4]
    Extraído do artigo de Barbey dAurevilly in Articles Justificatifs pour Charles Baudelaire, Auteur des Fleurs du Mal (Paris, 1857)  um opúsculo de 33 páginas, com contribuições também de Dulamon, Asselineau e Thierry, publicado às expensas de Baudelaire em vista do processo: “O poeta, terrível e terrificado, quis nos fazer respirar a abominação por esta medonha corbelha que ele carrega, pálida canéfora, sobre sua cabeça eriçada de horror... Seu talento ... é, ele mesmo, uma flor do mal vinda das estufas quentes de uma Decadência... Com efeito, existe um Dante no autor das Fleurs du Mal, mas é o Dante de uma época decaída, um Dante ateu e moderno, um Dante vindo depois de Voltaire.” Cit. em W. T. Bandy, Baudelaire Judged by bis Contemporaries, Nova York, 1933, pp. 167-168.
    [J 3a, 1]
    Anotação de Gautier sobre Baudelaire em Les Poètes Français: Recueil des Chefs-dŒuvres de la Poésie Française, ed. org. por Eugène Crépet, Paris, 1862, vol. IV, Les Contemporains: “Nunca lemos as Fleurs du Mal ... sem pensar, involuntariamente, neste conto de Hawthorne (“A filha de Rappucinni”)... Sua musa se parece com a filha do doutor a quem nenhum veneno podia atingir, mas cuja pele, por sua palidez exangue, trai a influência do meio em que vive.” Cit. em W. T. Bandy, Baudelaire Judged by bis Contemporaries, Nova York, p. 174.
    [J 3a, 2]
    Temas principais da estética de Poe segundo Valéry: filosofia da composição, teoria do artificial, teoria da modernidade, teoria do excepcional e do estranho.
    [J 3a, 3]
    “O problema de Baudelaire podia, pois  devia, pois — colocar-se assim: ‘ser um grande poeta, mas não ser nem Lamartine, nem Hugo, nem Musset. Não digo que esse propósito tenha sido consciente, mas estava necessariamente em Baudelaire  era até mesmo essencialmente Baudelaire. Era sua razão de Estado. Nos domínios da criação, que são também os domínios do orgulho, a necessidade de se distinguir é inseparável da própria existência.” Paul Valéry, “Introduction aux Fleurs du Mal, Paris, 1928, p. X.
    [J 3a, 4]
    [...]
    Baudelaire confessa “ter tido, enquanto criança, a felicidade ou infelicidade de ler somente livros de adultos”. Charles Baudelaire, LArt Romantique, Paris, p. 298 <OC II, p. 42>(“Les drames et les romans honnêtes”).
    [J 4, 3]
    [...]
    Um motivo que se desgarrou do Spleen de Paris para a École païennePor que, então, os pobres não calçam luvas para mendigar? Eles fariam fortuna. Charles Baudelaire, LArt Romantique, Paris, p. 309 <OC II, p. 49>. 
    [J 4, 5] 
    “Não está longe o tempo em que se compreenderá que toda literatura que se recuse a caminhar fraternalmente com a ciência e a filosofia será uma literatura homicida e suicida. Baudelaire, LArt Romantique, Paris, p. 309  <OC II, p. 49> (Conclusão de “L’École païenne ).
    [ J 4, 6]
    [...]
    Uma passagem do retrato de Victor Hugo na qual Baudelaire, como um gravurista numa observação, desenhou a si mesmo, numa frase incidental. “Se ele pinta o mar, nenhuma marinha igualará as suas. Os navios que sulcam a superfície ou que atravessam suas agitações terão, mais que em qualquer outro pintor, este aspecto de lutadores apaixonados, este caráter de vontade e de animalidade que se desprende tão misteriosamente de um aparelho geométrico e mecânico de madeira, de ferro, de cordas e de tecido; animal monstruoso criado pelo homem, ao qual o vento e a onda acrescentam a beleza do movimento.  Baudelaire, LArt Romantique, Paris, p. 321  <OC II, p. 135> (“Victor Hugo ).
     
    3 A fim de afastar o jovem Baudelaire da vida desregrada que levava em Paris, seu padrasto, o general Aupick, o enviou em junho de 1841 para uma viagem a Calcutá. Depois de ter passado cerca de dois meses na Ilha de Réunion, Baudelaire regressou à França em fevereiro de 1842. (E/M) 
     

    BENJAMIN, Walter (1892-1940). Passagens / Das Passagen-WerkWalter Benjamin; edição alemã de Rolf Tiedemann; organização da edição brasileira Willi Bolle; colaboração na organização da edição brasileira Olgária Chain Féres Matos; tradução do alemão Irene Aron; tradução do francês Cleonice Paes Barreto Mourão; revisão técnica Patrícia de Freitas Camargo; pósfácios Willie Bolle e Olgária Chain Féres Matos; introdução à edição alemã (1982) Rolf Tiedemann. Belo Horizonte: Editora UFMG; São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2009.

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