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[J 21a, 2]
[...]
“‘O olhar singular de uma mulher galante / Que desliza até nós como o raio branco / Que
a lua ondulosa envia ao lago trêmulo.’ Assim se inicia o último poema, e Berg respondeu
longa e avidamente a este olhar singular, que faz jorrar lágrimas copiosas nos olhos daquele
que o encontra desarmado. Porém, assim como para Baudelaire, também para Berg o olhar venal tornou-se um olhar vindo da história primeva. A lua da grande cidade, em forma de
lâmpada em arco, parece-lhe vir do tempo das heteras.14 Ele precisa apenas refleti-lo,
assim como o lago, e o banal apresenta-se como algo ocorrido há muito tempo; a mercadoria
do século XIX revela seu tabu mítico. Foi com esse espírito que Berg compôs a Lulu.”
Wiesengrund-Adorno, “Konzertarie: ‘Der Weih” (em Willi Reich, Alban Berg, com os
escritos do próprio Berg e contribuições de Theodor Wiesengrund-Adorno e Ernst Krenek,
Viena, Leipzig, Zurique, 1937), p. 106.
[J 22, 2]
14 Alusão aos trabalhos de Johann Jakob Bachofen sobre a história da família (Das Mutterrecht, 1861). O heterismo designa um estágio primitivo da humanidade, caracterizado por relações sexuais livres. Cf. o artigo de Benjamin sobre Bachofen, GS II, 219-233. (J.L.)
BENJAMIN, Walter (1892-1940). Passagens / Das Passagen-Werk / Walter Benjamin; edição alemã de Rolf Tiedemann; organização da edição brasileira Willi Bolle; colaboração na organização da edição brasileira Olgária Chain Féres Matos; tradução do alemão Irene Aron; tradução do francês Cleonice Paes Barreto Mourão; revisão técnica Patrícia de Freitas Camargo; pósfácios Willie Bolle e Olgária Chain Féres Matos; introdução à edição alemã (1982) Rolf Tiedemann. — Belo Horizonte: Editora UFMG; São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2009.
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