continua/benjamin/passagens/Das Passagen-Werk/continua
A tensão entre emblema e imagem publicitária permite medir as transformações que ocorreram a partir do século XVII no mundo das coisas.
[J 67a, 2]
[...]
O trapeiro é a figura mais provocadora da miséria humana. Lumpemproletário num duplo sentido: vestindo trapos e ocupando-se de trapos. “Eis um homem encarregado de recolher o lixo de cada dia da capital. Tudo o que a cidade grande rejeitou, tudo o que ela perdeu, tudo o que desdenhou, tudo o que ela destruiu, ele cataloga e coleciona. Ele consulta os arquivos da orgia, o cafarnaum dos detritos. Faz uma triagem, uma escolha inteligente; recolhe, como um avaro um tesouro, as imundícies que, ruminadas pela divindade da Indústria, tornar-se-ão objetos de utilidade ou de prazer.” (“Du vin et du hachisch”, Œuvres, vol.I, pp. 249-250 <OC 1, p. 381>). Como se constata nesta descrição em prosa de 1851, Baudelaire se reconhece no trapeiro. No poema <“Le vin des chiffonniers”, OC I, p. 106>, é apresentada ainda uma outra afinidade com o poeta, de forma explícita: “Vê-se um trapeiro cambaleante, a fronte inquieta, / Rente às paredes a esgueirar-se como um poeta, / E, alheio aos guardas e alcagüetes mais abjetos, / Abrir seu coração em gloriosos projetos.”
[J 68, 4]
Muitos indícios levam a crer que “Le vin des chiffonniers” tenha sido escrito quando Baudelaire declarou-se favorável ao “belo útil”. (Não é possível detalhar mais a respeito, apareceu pela primeira vez somente na edição das Fleurs du Mal. — “Le vin de l’assassin” foi publicado pela primeira vez em 1848 — em L’Écho des Marchands de Vins!) O poema sobre o trapeiro refuta veementemente as profissões de fé reacionárias de Baudelaire. A literatura sobre o poeta o negligenciou.
[J 68a, 1]
“Creiam-me, os impostos sobre o vinho nas barreiras da cidade pouparam de muitos as estruturas governamentais.” Édouard Foucaud, Paris Inventeur: Physiologie de l’Industrie Française, Paris, 1844, p. 10.
[J 68a, 2]
BENJAMIN, Walter (1892-1940). Passagens / Das Passagen-Werk / Walter Benjamin; edição alemã de Rolf Tiedemann; organização da edição brasileira Willi Bolle; colaboração na organização da edição brasileira Olgária Chain Féres Matos; tradução do alemão Irene Aron; tradução do francês Cleonice Paes Barreto Mourão; revisão técnica Patrícia de Freitas Camargo; pósfácios Willie Bolle e Olgária Chain Féres Matos; introdução à edição alemã (1982) Rolf Tiedemann. — Belo Horizonte: Editora UFMG; São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2009.
0 Comentários:
Postar um comentário
Assinar Postar comentários [Atom]
<< Página inicial