29.10.17
17.7.17
Sobre o conceito da História
“Lula condenado,
Aécio liberado,
Temer protegido, soberania fulminada,
trabalhador escravizado, mercado triunfante,
até que o Brasil se levante”
Roberto Requião
“Lula condenado, Aécio no Senado, Temer no Poder e Maluf discursando na Comissão de Justiça provam que a democracia brasileira é deturpada”
Marcelo Rubens Paiva
“Pensam que podem roubar, mentir, usurpar, enganar o povo brasileiro em qualquer tempo, por qualquer razão, fazendo o que fizeram com o Brasil. Olha aí o que deu”
Doria
«ix
Há um quadro de Klee intitulado Angelus Novus. Representa um anjo que parece preparar-se para se afastar de qualquer coisa que olha fixamente. Tem os olhos esbugalhados, a boca escancarada e as asas abertas. O anjo da história deve ter este aspecto. Voltou o rosto para o passado. A cadeia de factos que aparece diante dos nossos olhos é para ele uma catástrofe sem fim, que incessantemente acumula ruínas sobre ruínas e lhas lança aos pés. Ele gostaria de parar para acordar os mortos e reconstituir, a partir dos seus fragmentos, aquilo que foi destruído. Mas do paraíso sopra um vendaval que se enrodilha nas suas asas, e que é tão forte que o anjo já as não consegue fechar. Este vendaval arrasta-o imparavelmente para o futuro, a que ele volta costas, enquanto o monte de ruínas à sua frente cresce até ao céu. Aquilo a que chamamos o progresso é este vendaval.»
Walter Benjamin
22.5.17
26.4.17
Lulu – Frank Wedekind
Benjamin Franklin Wedekind (Hanover, 1864 – Munique, 1918)
foi ator, dramaturgo e romancista. Seu pai era um alemão que emigrou
para a América, voltando mais tarde para sua terra natal, depois de
passar algum tempo praticando medicina em São Francisco. Insatisfeito
com a política prussiana de Otto von Bismarck, o velho Wedekind partiu
novamente e estabeleceu-se na Suíça, onde seu filho cresceu e trabalhou
como jornalista freelancer, redator de publicidade e como secretário em um circo.
Frank Wedekind também trabalhou para o jornal satírico Simplicimuss. Em 1898, durante sua visita à Palestina, Wilhem II se opôs a uma publicação feita neste jornal, na qual aparece, cujo artigo tinha Wedekind como autor. Uma ação judicial foi movida contra Wedekind, a editora e o cartunista. A editora fugiu e permaneceu no exílio por cinco anos; Wedekind e o cartunista foram condenados a seis e sete meses de prisão, respectivamente.
Em sua juventude, manteve um diário que sua filha lançou com o pertinente título Diário de uma vida erótica. É sabido que o jovem Frank, especialmente durante seus anos parisienses, era um grande mulherengo. Só em 1906, quando se casou com a jovem atriz austríaca Tilly Newes, se tornou monogâmico e ciumento. Foi esse ciúme que o matou, pois ele sentia que tinha que ser, criativa e sexualmente, sempre ativo para preservar a devoção de sua esposa. Assim, ainda insuficientemente recuperado de uma apendicectomia, voltou de forma vigorosa à atividade sexual, desenvolvendo uma hérnia que um especialista se recusou a operar de imediato. Wedekind morreu de consequentes complicações.
Sua ampla visão artística fez com que sua obra se antecipasse à ascensão do expressionismo em várias décadas. Em Munique, centro da literatura de vanguarda e dos precursores do drama naturalista, Wedekind se diferenciou, sentindo que o artista não deve ser “cientificamente objetivo” acerca da sociedade que descreve, senão totalmente envolvido nela. Considerado um moralista que desgastava a máscara da imoralidade, foi o terror da burguesia alemã. Suas peças foram perseguidas e a encenação permitida somente em versões censuradas, já que consideradas pornográficas porque ousavam tratar as questões da liberdade, da liberação sexual, dos enganos e da violência. Sua linguagem é brilhante e poética, construída principalmente de sentenças curtas, com uma ou duas palavras, desrespeitando todos os clichês do teatro de seu tempo. É autor de Frühlings Erwachen (O despertar da primavera), sua peça teatral mais conhecida.
Karl Kraus, em Literatur und Lüge (Literatura e fraude), diz: “Frank Wedekind é o primeiro dramaturgo alemão que abriu ao pensamento um acesso ao cenário tão largamente inutilizado. Todas as extravagâncias acerca da naturalidade foram dissipadas como um sopro. O que há dentro dos seres humanos e atrás deles volta a ser mais importante que o dialeto que falem”. John Willet nos lembra que Artur Kutscher, amigo e biógrafo de Wedekind, descreve o seu estilo de representação como um realçar da apresentação teatral “onde (Wedekind) não desejava que as pessoas esquecessem estar no teatro”, conservando sempre o público e suas reações em mente. Willet considera que sua obra antecipa o teatro épico brechtiano e aponta para o que veio a se chamar teatro do absurdo.
Bertolt Brecht o considera “um dos grandes educadores da Europa moderna”, como Tolstoi e Strindberg.
Em Paris, Frank Wedekind escreveu a trilogia Lulu, composta por O espírito da terra, A caixa de Pandora e Morte e diabo. Lá, ele assistiu a uma performance chamada Lulu, o Clown Dancer – um cruzamento entre pantomima e ato de circo –, que pode ter gerado ideias para a construção da trilogia; além disso, conheceu Lou Andreas-Salomé, amiga de Freud, Nietzsche, Rilke, que alguns dizem ser a inspiração para Lulu.
Wedekind trabalhou muito para escrever as peças. Seu editor previu que a história de uma jovem mulher à deriva na Alemanha do fim do século xix , que deixa evidente seu êxtase sexual e ocasiona a morte para seus muitos amantes, enfrentaria dificuldades legais para ser publicada. Por isso, Wedekind foi obrigado a revisar incansavelmente as peças, um processo que continuaria até que existissem várias versões, de acordo com as diversas necessidades.
As duas primeiras peças serviram como modelo para a ópera Lulu, de Alban Berg e para o filme Pandora’s Box, de G. W. Pabst, cujo desempenho de Louise Brooks transformou-a no primeiro grande ícone do cinema, a eterna mulher-criança.
Segundo Karl Kraus, o grande crítico de Wedekind, quando Alwa, escritor e amante, oscilando entre o amor e a criação artística da beleza feminina segura a mão de Lulu na sua, diz que ela é “uma alma que se desperta esfregando o sono de seus olhos”, enuncia as palavras que são a chave para esse labirinto da feminilidade, no qual, às vezes, o homem perde o sinal de sua razão. É assim no último ato de O espírito da terra, quando a dona do amor reúne ao seu redor todos os tipos masculinos para que eles a sirvam, na medida em que aceitem o que ela tem a oferecer. É, ainda, Alwa, o filho de seu marido, quem no último ato de A caixa de Pandora faz a revelação, ao se inebriar totalmente na doce fonte da perdição, quando seu destino quer se concretizar. Ele dirá, delirando diante do quadro de Lulu, as seguintes palavras: “‘Diante deste quadro recobro meu amor-próprio. Ele torna meu destino mais compreensível. Tudo o que vivemos se torna tão natural, tão evidente, tão claro quanto o sol. Quem se sentir seguro em sua posição burguesa diante desses lábios voluptuosos, carnudos, desses olhos inocentes de criança, desse corpo rosado, exuberante, que atire a primeira pedra’. Essas palavras, ditas diante do quadro da mulher que se tornou a destruidora de tudo, porque tinha sido destruída por todos, deixam clara a ideia marcante que envolve o mundo do escritor Frank Wedekind: um mundo no qual a mulher que tenha alcançado a maturidade estética não esteja condenada a livrar o homem da cruz da sua responsabilidade moral”.
Frank Wedekind também trabalhou para o jornal satírico Simplicimuss. Em 1898, durante sua visita à Palestina, Wilhem II se opôs a uma publicação feita neste jornal, na qual aparece, cujo artigo tinha Wedekind como autor. Uma ação judicial foi movida contra Wedekind, a editora e o cartunista. A editora fugiu e permaneceu no exílio por cinco anos; Wedekind e o cartunista foram condenados a seis e sete meses de prisão, respectivamente.
Em sua juventude, manteve um diário que sua filha lançou com o pertinente título Diário de uma vida erótica. É sabido que o jovem Frank, especialmente durante seus anos parisienses, era um grande mulherengo. Só em 1906, quando se casou com a jovem atriz austríaca Tilly Newes, se tornou monogâmico e ciumento. Foi esse ciúme que o matou, pois ele sentia que tinha que ser, criativa e sexualmente, sempre ativo para preservar a devoção de sua esposa. Assim, ainda insuficientemente recuperado de uma apendicectomia, voltou de forma vigorosa à atividade sexual, desenvolvendo uma hérnia que um especialista se recusou a operar de imediato. Wedekind morreu de consequentes complicações.
Sua ampla visão artística fez com que sua obra se antecipasse à ascensão do expressionismo em várias décadas. Em Munique, centro da literatura de vanguarda e dos precursores do drama naturalista, Wedekind se diferenciou, sentindo que o artista não deve ser “cientificamente objetivo” acerca da sociedade que descreve, senão totalmente envolvido nela. Considerado um moralista que desgastava a máscara da imoralidade, foi o terror da burguesia alemã. Suas peças foram perseguidas e a encenação permitida somente em versões censuradas, já que consideradas pornográficas porque ousavam tratar as questões da liberdade, da liberação sexual, dos enganos e da violência. Sua linguagem é brilhante e poética, construída principalmente de sentenças curtas, com uma ou duas palavras, desrespeitando todos os clichês do teatro de seu tempo. É autor de Frühlings Erwachen (O despertar da primavera), sua peça teatral mais conhecida.
Karl Kraus, em Literatur und Lüge (Literatura e fraude), diz: “Frank Wedekind é o primeiro dramaturgo alemão que abriu ao pensamento um acesso ao cenário tão largamente inutilizado. Todas as extravagâncias acerca da naturalidade foram dissipadas como um sopro. O que há dentro dos seres humanos e atrás deles volta a ser mais importante que o dialeto que falem”. John Willet nos lembra que Artur Kutscher, amigo e biógrafo de Wedekind, descreve o seu estilo de representação como um realçar da apresentação teatral “onde (Wedekind) não desejava que as pessoas esquecessem estar no teatro”, conservando sempre o público e suas reações em mente. Willet considera que sua obra antecipa o teatro épico brechtiano e aponta para o que veio a se chamar teatro do absurdo.
Bertolt Brecht o considera “um dos grandes educadores da Europa moderna”, como Tolstoi e Strindberg.
Em Paris, Frank Wedekind escreveu a trilogia Lulu, composta por O espírito da terra, A caixa de Pandora e Morte e diabo. Lá, ele assistiu a uma performance chamada Lulu, o Clown Dancer – um cruzamento entre pantomima e ato de circo –, que pode ter gerado ideias para a construção da trilogia; além disso, conheceu Lou Andreas-Salomé, amiga de Freud, Nietzsche, Rilke, que alguns dizem ser a inspiração para Lulu.
Wedekind trabalhou muito para escrever as peças. Seu editor previu que a história de uma jovem mulher à deriva na Alemanha do fim do século xix , que deixa evidente seu êxtase sexual e ocasiona a morte para seus muitos amantes, enfrentaria dificuldades legais para ser publicada. Por isso, Wedekind foi obrigado a revisar incansavelmente as peças, um processo que continuaria até que existissem várias versões, de acordo com as diversas necessidades.
As duas primeiras peças serviram como modelo para a ópera Lulu, de Alban Berg e para o filme Pandora’s Box, de G. W. Pabst, cujo desempenho de Louise Brooks transformou-a no primeiro grande ícone do cinema, a eterna mulher-criança.
Segundo Karl Kraus, o grande crítico de Wedekind, quando Alwa, escritor e amante, oscilando entre o amor e a criação artística da beleza feminina segura a mão de Lulu na sua, diz que ela é “uma alma que se desperta esfregando o sono de seus olhos”, enuncia as palavras que são a chave para esse labirinto da feminilidade, no qual, às vezes, o homem perde o sinal de sua razão. É assim no último ato de O espírito da terra, quando a dona do amor reúne ao seu redor todos os tipos masculinos para que eles a sirvam, na medida em que aceitem o que ela tem a oferecer. É, ainda, Alwa, o filho de seu marido, quem no último ato de A caixa de Pandora faz a revelação, ao se inebriar totalmente na doce fonte da perdição, quando seu destino quer se concretizar. Ele dirá, delirando diante do quadro de Lulu, as seguintes palavras: “‘Diante deste quadro recobro meu amor-próprio. Ele torna meu destino mais compreensível. Tudo o que vivemos se torna tão natural, tão evidente, tão claro quanto o sol. Quem se sentir seguro em sua posição burguesa diante desses lábios voluptuosos, carnudos, desses olhos inocentes de criança, desse corpo rosado, exuberante, que atire a primeira pedra’. Essas palavras, ditas diante do quadro da mulher que se tornou a destruidora de tudo, porque tinha sido destruída por todos, deixam clara a ideia marcante que envolve o mundo do escritor Frank Wedekind: um mundo no qual a mulher que tenha alcançado a maturidade estética não esteja condenada a livrar o homem da cruz da sua responsabilidade moral”.
Lulu
O espírito da terra ● A caixa de Pandora ● Morte e diabo
Erdgeist ● Die Büchse Der Pandora ● Tod Und Teufel ● Aus Der Vorrede Zur Dritten Auflage
Frank Wedekind
Die Büchse Der Pandora
Karl Kraus
tradução ● Claudia Abeling
revisão ● Alexandre Barbosa de Souza & M. Silvia Mourão Netto
projeto gráfico ● Paulo Vidal de Castro & Thais Vilanova
www.acigarraebooks.com.br
isbn: 978-85-93709-00-5
6.2.17
A Revolução dos Feios
autor: Ni Brisant
desenhos: Ni Brisant
editor: Ferréz
revisor: Damásio Marques
projeto gráfico: Paulo Vidal de Castro & Thais Vilanova
tipo: Caecilia
isbn: 9788562848063
2016
livros lançados (selo povo):
1 Ferréz – Cronista de um tempo Ruim (SP)
2 Catia Cernov – Amazônia em Chamas (RO)
3 Marcos Teles – Sob o Azul do Céu (BA)
4 Cidinha da Silva – Oh, Margem! Reinventa os Rios! (RJ)
5 Wesley Barbosa – O diabo na Mesa dos Fundos (SP)
6 Ferréz – Ninguém é Inocente em São Paulo (SP)
7 Ni Brisant – A Revolução dos Feios (BA)
5.2.17
Ninguém é inocente em São Paulo
O livro “Ninguém é Inocente em São Paulo” (2016, Selo Povo) reúne diversos contos que relatam a realidade da periferia de São Paulo e de seus habitantes. Na luta em se construir uma sociedade melhor. O autor retrata o caos que é a cidade de São Paulo, a “correria”, onde ninguém tem tempo, diante das diversas dificuldades que encontram os moradores das periferias. Ferréz aponta uma arma bastante poderosa no combate àqueles “que exterminaram” a sua gente: O livro. A realidade refletida no livro é aquela vivida diariamente pelo escritor, e retrata um cenário comum para muitos brasileiros. A obra carrega consigo críticas acerca da estagnação do status quo da sociedade e sobre a situação na qual foram deixadas as pessoas que habitam as favelas: esquecidas pelo poder público, marginalizadas pela sociedade e constantemente vítimas de preconceitos enraizados na cultura brasileira. Ferréz, em sua literatura e em matérias que publica regularmente em seu Blog e no facebook, na internet, tem a preocupação de alertar àqueles desprivilegiados sobre os entraves que enfrentam, explica sobre a máquina do capitalismo e sua premissa da desigualdade, além disso, discorre sobre a injustiça social. Utiliza-se de uma linguagem coloquial, assim o acesso aos textos é abrangente. Apesar desse cenário que condiciona a vida difícil nas periferias, Ferréz consegue abordar tais temas de maneira leve e engraçada, como é o caso do conto “Buba e o Muro Social”. Nele, a história é contada por um cachorro que, após ser adotado, se muda de um bom apartamento para a favela, na qual, apesar das dificuldades, recebe mais amor e, portanto é mais feliz. Ademais, elementos como a ironia e o estilo de linguagem, mais coloquial, também colaboram para criar esse aspecto cômico de retratar uma realidade dura. O tipo de linguagem permite uma maior aproximação entre o autor e o leitor, uma vez que a obra é direcionada aos moradores de periferia, os quais se identificam não apenas com o assunto do livro, como também com o estilo da escrita. Ferréz não narra apenas às dificuldades, mas também valoriza sua comunidade, realçando o lado trabalhador e determinado da população. O livro foi editado pelo próprio autor, e lançado por sua editora, a Selo Povo, que publica também autores de várias periferias do Brasil.
autor: Ferréz
editor: Ferréz
projeto gráfico: Paulo Vidal de Castro & Thais Vilanova
tipo: Caecilia
isbn: 9788562848056
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