26.10.25

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A consciência do tempo que escoa no vazio e o taedium vitae são os dois pesos que mantêm em movimento a engrenagem da melancolia. Nesse sentido, há uma correspondência exata entre o último poema do ciclo “Spleen et idéal” e o ciclo “La mort”.
[J 69, 5]
O poema “Lhorloge” <OC I, p. 81> vai a fundo no tratamento alegórico. Em tomo do relógio  que ocupa uma posição especial na hierarquia dos emblemas  o poema agrupa o Prazer, o Agora, o Tempo, o Acaso, a Virtude e o Arrependimento. (A propósito da “sílfide”, cf. o “teatro banal” em “Lirréparable”, e a propósito de “o albergue”, o Albergue no mesmo poema <OC I, p. 55>).
[J 69, 6]
[...]
Sobre o “seccionamento do tempo”, em particular em “Lhorloge” <OC I, p. 81>, confira-se o “Colóquio entre Monos e Una”, de Poe: “Parecia que em meu cérebro havia nascido esta alguma coisa, para a qual não há palavras que possam transmitir à inteligência meramente humana nem mesmo uma noção confusa. Permita-me denominá-lo uma pulsação do pêndulo mental. Era a personificação moral da idéia humana abstrata do Tempo... Foi assim que medi as irregularidades do pêndulo sobre a lareira e dos relógios das pessoas presentes. Seus tique-taques enchiam meus ouvidos com suas sonoridades. Os mais leves desvios da medida exata ... afetavam-me do mesmo modo como, entre os vivos, as violações da verdade abstrata afetavam meu senso moral.” (Edgar Allan Poe, Nouvelles Histoires Extraordinaires, Paris, 1886, pp. 336-337). Esta descrição nada mais é do que um único e grande eufemismo do vazio total do decurso do tempo à mercê do qual se encontra o homem no spleen.
[J 69a, 1]

BENJAMIN, Walter (1892-1940). Passagens / Das Passagen-WerkWalter Benjamin; edição alemã de Rolf Tiedemann; organização da edição brasileira Willi Bolle; colaboração na organização da edição brasileira Olgária Chain Féres Matos; tradução do alemão Irene Aron; tradução do francês Cleonice Paes Barreto Mourão; revisão técnica Patrícia de Freitas Camargo; pósfácios Willie Bolle e Olgária Chain Féres Matos; introdução à edição alemã (1982) Rolf Tiedemann. Belo Horizonte: Editora UFMG; São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2009.

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