NOTA
Este comentário segue, em todos os volumes, o da edição original alemã mais completa da Obras de Benjamin (Gesammelte Schriften, da responsabilidade de Rolf Tiedemann e Hermann Schweppenhäuser), bem como, no caso de Rua de mão única, o da nova edição crítica (Werke und Nachlaß. Kritische Gesamtausgabe, vol. 8, ed. de Detlev Schöttker e Steffen Haug, Frankfurt/Main, Suhrkamp Verlag, 2008). Adaptei os comentários ao destinatário de língua portuguesa e atualizei lacunas. As passagens em itálico provêm todas de textos e cartas de Benjamin.
As citações das Cartas no aparato crítico da edição alemã das Obras de Walter Benjamin referem ainda à edição em dois volumes, organizada por G. Scholem e Adorno (W. Benjamin, Briefe [Cartas]. Herausgegeben und mit Anmerkungen versehen von Gershom Scholem und Theodor W. Adorno. Frankfurt/Main, Suhrkamp Verlag, 1966). Foi, entretanto, editada a correspondência completa de Benjamin (Gesammelte Briefe in sechs Bänden [Correspondência Completa, em seis volumes], org. de Christoph Gödde e Henri Lonitz [Arquivo Theodor W. Adorno], Frankfurt/Main, Suhrkamp Verlag, 1995-2000). Uma vez que é esta hoje a edição de referência para as Cartas de Benjamin, todas as citações no Comentário desta edição remeterão para ela, indicando, no entanto, também a fonte na primeira edição das Cartas. Para isso, serão usadas as siglas Br. (= Briefe, para a edição de Scholem/Adorno, em dois volumes) e GB (= Gesammelte Briefe, para a edição completa), seguidas do número de página e, no caso desta última edição, também o do volume. Sempre que apareça apenas a referência a GB, isso significa que a carta em questão não figura na edição de Scholem/Adorno. As referências à edição original das Obras (Gesammelte Schriften) utilizam a sigla GS, seguida do volume e do número de página.
Rua de mão única (p. 7-65)
Escrevi depois [...] algumas notas que me agradam muito; em particular uma, sobre marinheiros (e o modo como eles veem o mundo), outra sobre a propaganda, outras sobre vendedoras de jornais, a pena de morte, feiras, barracas de tiro, Karl Kraus – tudo ervas amargas, das que agora cultivo com paixão na minha horta (Br., 423; GB, III, 151).
[...]
Para homens
Este aforismo, o mais curto de todo o livro, pode ter uma dupla leitura, impossível de dar na tradução, mas que é importante comentar, na medida em que cruza um ponto de vista e uma convicção em que práticas de linguagem e práticas sexuais são vistas em analogia, o que não é raro em Benjamin. O original diz: Überzeugen ist unfruchtbar. Überzeugen significa, numa primeira acepção (a que ficou na tradução), ‘convencer’ (e teria então a ver com uma prática linguístico-retórica meramente instrumental, e não criativa); mas pode também ser lido como über-zeugen, significando então ‘procriação em excesso’, e referindo-se a uma sexualidade meramente orientada para a procriação e, assim, paradoxalmente ‘estéril’, tal como acontece com a retórica da mera persuasão. Ver, sobre essa ‘imagem de pensamento’ por excelência, o capítulo VII (‘Für Männer – Überzeugen ist unfruchtbar: Zum Zusammenhang von Eros und Sprache’ [Para Homens – Convencer/procriar em excesso é estéril: sobre a conexão entre Eros e a linguagem]) no livro de Sigrid Weigel, Entstellte Änhlichkeit. Walter Benjamins theoretische Schreibweise. Frankfurt/Main, Fischer Taschenbuch Verlag, 1997.
[...]
Artigos de armarinho
O primeiro texto dessa série derivou provavelmente das seguintes anotações (Manuscrito 706):
Inexpressividade – caricatura
(Invisibilidade) máximo do que se pode exprimir
A caveira é ambas as coisas no seu máximo:
O máximo do grau zero da expressão: as cavidades orbitais
O máximo do que se pode exprimir: a dentadura arreganhada
O riso arreganhado
O riso que arreganha os dentes e a aparência estão intimamente ligados. Só quando uma aparência se coloca à frente de um ser (ou é esse
ser) este ri arreganhando os dentes. Por isso é que há uma ligação com o
arreganhar de dentes numa das formas de sorriso que assentam na
aparência, e na outra não: esta é a do sorriso infantil, feliz.
(Fonte. Arquivo Benjamin, manuscrito 706)
BENJAMIN, Walter. Rua de mão única / Infância berlinense: 1900 / Walter Benjamin; edição e tradução de João Barrento. Einbahnstraße; Berliner Kindheit um 1900. —1a ed; 4a reimp— Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2022. — (Filô/Benjamin)

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