Fazer uma comparação entre o trapeiro e as condições de vida na Inglaterra, como Marx as descreve em O Capital no capítulo “A manufatura moderna” (ed. Korsch, Berlim, 1932, p. 438).
[J 89a, 4]
[...]
Na teoria da arte de Baudelaire, o motivo do choque não intervém apenas como máxima da prosódia. Pelo contrário, o mesmo motivo está em jogo quando Baudelaire apropria-se da teoria de Poe relativa ao significado da surpresa na obra de arte. — Sob outra perspectiva, o motivo do choque aparece na “gargalhada sarcástica do inferno”, que faz com que o alegonsca se sobressalte e interrompa suas meditações.
[J 90, 2]
[...]
Na introdução à publicação de uma das Nouvelles Histoires Extraordinaires, em L’Illustration de 17 de abril de 1852, Baudelaire caracteriza os domínios de interesse de Poe, citando, entre outros, a “análise dos excêntricos e dos párias da vida sublimar (Charles Baudelaire, Œuvres Complètes, ed. Crépet, Traductions: Nouvelles Histoires Extraordinaires, Paris, 1933, p. 378 <OC II, p. 289>). A expressão corresponde de modo surpreendente ao auto-retrato que Blanqui incorporou à L’Éternité par les Astres, por assim dizer, à maneira de uma imagem oculta dentro de outra imagem (Vexierbild): “Blanqui ... reconhecia ser ele mesmo o pária’ de uma época.” Maurice Dommanget, Auguste Blanqui à Belle-Ile, Paris, 1935, pp. 140-141.
[J 91a, 2]
[...]
“A proclamação da igualdade como princípio da constituição representou desde o início não apenas um progresso para o pensamento, mas também um perigo.” (Max Horkheimer, “Materiahsmus und Moral”, Zeitschrift für Sozialforschung, 1933, n° 2, p. 188). Na zona deste perigo situam-se as uniformidades absurdas na descrição da multidão por Poe; as alucinações dos sete anciãos são da mesma estirpe.
[J 92, 3]
É somente enquanto mercadoria que a coisa exerce o efeito de alienar os homens uns em relação aos outros. Ela exerce essa influência através de seu preço. A empatia com o valor de troca da mercadoria, com seu substrato de igualdade — eis o elemento decisivo. (A absoluta igualdade qualitativa do tempo, no qual se desenrola o trabalho que produz o valor de troca, é o fundo cinzento a partir do qual se destacam as cores berrantes da sensação.)
[J 92, 4]
Sobre o spleen. Blanqui, em 16 de setembro de 1835, a Lacambre: “Do verdadeiro Império dos Mortos, as notícias seriam certamente mais interessantes do que deste triste vestíbulo do Reino das almas, onde estamos de quarentena. Nada tão lamentável como esta existência de prisioneiros agitando-se e girando no fundo de um bocal como aranhas procurando uma saída.” Maurice Dommanget, Blanqui à Belle-Ile, Paris, 1935, p. 250.
[J 92, 5]
K
[Cidade de Sonho, Sonhos de Futuro, Niilismo Antropológico, Jung]
“Biblioteca onde os livros se fundiram uns nos outros e os títulos se apagaram.”
Doutor Pierre Mabille,
Doutor Pierre Mabille,
“Préface à I’Éloge des Préjugés Populaires”, Minotaure, II, n° 6, inverno de 1935, p. 2.
O despertar como um processo gradual que se impõe na vida tanto do indivíduo quanto das gprações. O sono é seu estágio primário. A experiência da juventude de uma geração tem iito em comum com a experiência do sonho. Sua configuração histórica é configuração ca. Cada época tem um lado voltado para os sonhos, o lado infantil. Para o século passado, isto aparece claramente nas passagens. Porém, enquanto a educação de gerações "ores interpretava esses sonhos segundo a tradição, no ensino religioso, a educação atual se simplesmente à distração das crianças. Proust pôde surgir como um fenômeno sem lentes apenas em uma geração que perdera todos os recursos corpóreo-naturais da oração e que, mais pobre do que as gerações anteriores, estivera abandonada à própria e, por isso, conseguira apoderar-se dos mundos infantis apenas de maneira solitária, e patológica. O que é apresentado a seguir é um ensaio sobre a técnica do despertar, tentativa de compreender a revolução dialética, copernicana, da rememoração.
[K 1, 1]
A revolução copernicana na visão histórica é a seguinte: considerava-se como o ponto fixo “o ocorrido” e conferia-se ao presente o esforço de se aproximar, tateante, do conhecimento desse ponto fixo. Agora esta relação deve ser invertida, e o ocorrido, tornar-se a reviravolta dialética, o irromper da consciência desperta. Atribui-se à política o primado sobre a história. Os fatos tornam-se algo que acaba de nos tocar, e fixá-los é tarefa da recordação. E, de fato, o despertar é o caso exemplar da recordação: o caso no qual conseguimos recordar aquilo que é mais próximo, mais banal, mais ao nosso alcance. O que Proust quer dizer com a mudança experimental dos móveis no estado de semidormência matinal,1 o que Bloch percebe como a obscuridade do instante vivido, nada mais é do que aquilo que se estabelecerá aqui no plano da história, e coletivamente. Existe um saber ainda — não-consciente do ocorrido, cuja promoção tem a estrutura do despertar.
[K 1, 2]
1 0 texto de Proust é citado em K 8a, 2. (J.L.)
BENJAMIN, Walter (1892-1940). Passagens / Das Passagen-Werk / Walter Benjamin; edição alemã de Rolf Tiedemann; organização da edição brasileira Willi Bolle; colaboração na organização da edição brasileira Olgária Chain Féres Matos; tradução do alemão Irene Aron; tradução do francês Cleonice Paes Barreto Mourão; revisão técnica Patrícia de Freitas Camargo; pósfácios Willie Bolle e Olgária Chain Féres Matos; introdução à edição alemã (1982) Rolf Tiedemann. — Belo Horizonte: Editora UFMG; São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2009.

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