2.7.25

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<fase média>

[...] 

“Dissemos ... que o homem retorna à caverna etc., mas retorna a ela sob uma forma alienada, hostil. O selvagem em sua caverna ... sente-se ... em casa... Mas o porão em que vive o pobre é um domicílio hostil, um poder estranho que só se entrega a ele na medida em que ele lhe entrega seu sangue e suor, domicílio que ele não pode considerar como seu lar   onde finalmente poderia dizer aqui estou em casa. Ao contrário, ele se encontra na casa de um outro ... que fica diariamente à espreita e o despeja quando não paga o aluguel. O pobre está igualmente ciente da diferença de qualidade entre seu domicílio e a da outra moradia humana, situada no além, no céu da riqueza.” Karl Marx, Der histonsche Materialismus, ed. org. por Landshut e Mayer, Leipzig, 1932, vol. I, p. 325 (“Nationalökonomie und Philosophie”). 

[I 5a, 4] 

Valéry sobre Poe. Ele enfatiza a incomparável percepção deste em relação às condições e às leis do efeito da obra literária em geral: “O próprio do que é verdadeiramente geral é ser fecundo... Não surpreende, pois, que Poe, possuindo um método tão poderoso e tão seguro, tenha sido o inventor de vários gêneros, tenha dado os primeiros ... exemplos do conto científico, do poema cosmogônico moderno, do romance de instrução criminal, da introdução na literatura dos estados psicológicos mórbidos.   Valéry, Introduction a Baudelaire, Les Fleurs du Mal, Paris, 1926, p. XX. 
[I 5a, 5]
<fase tardia> 
Nesta descrição de um salão parisiense, Gautier expressa de maneira drástica a integração do homem ao intérieur : “O olho fascinado volta-se para o grupo de mulheres que, agitando o leque, escutam os que conversam, meio inclinados; os olhos cintilam como diamantes, os ombros brilham como cetim, os lábios se abrem como flores.” (Imaginam-se flores artificiais!) Paris et les Parisiens aux XIXe Siècle, Paris, 1856. (Théophie Gautier, “Introducdon”, p. IV.)
[I 6, 1]
[...]
Talvez exista uma correlação entre a diminuição do espaço habitável e a crescente decoração do intérieur. A propósito do primeiro, Balzac faz considerações importantes: “Existe uma demanda apenas para quadros pequenos, porque não é mais possível pendurar os grandes! Acomodar sua biblioteca logo se tornará um grave problema... Não se acha mais lugar para guardar mantimentos! Compram-se, portanto, mercadorias que durem pouco. As camisas e os livros não serão duráveis, eis tudo. A solidez dos produtos desaparece em toda parte’.” Emst Robert Curtius, Balzac, Bonn, 1923, pp. 28-29.
[I 6, 5]
“Os crepúsculos que dão cores tão ricas à sala de jantar ou ao salão são filtrados por belos Becidos ou por estas janelas altas, trabalhadas, que o chumbo divide em inúmeros compartimentos. Os móveis são grandes, curiosos, bizarros, ornados de fechaduras e de segredos como almas refinadas. Os espelhos, os metais, os tecidos, a ourivesaria e a faiança ai executam para os olhos uma sinfonia muda e misteriosa.” Charles Baudelaire, “Linvitation ao voyage”, Le Spleen de Paris, Ed. Simon, Paris, p. 27.
[I 6a. 1]
Etimologia de “conforto”: “O termo significava outrora, em inglês, consolação (Comforter é o epíteto do Espírito Santo, Consolador); depois o sentido tornou-se, de preferência, bem-estar. Hoje, em todas as línguas do mundo, a palavra não designa senão a comodidade racional.” Wladimir Weidlé, Les Abeilles dAristée , Paris, 1936, p. 175 (Lagonie de l’art”).
[I 6a, 2]
“As midinettes-artistes (costureirinhas-artistas) ... não moram mais em quartos, mas em studios (aliás, cada vez mais designa-se por studio qualquer moradia de um só cômodo, como se os homens se tornassem cada vez mais artistas ou estudantes).” Henri Pollès, “Lart du commerce” ( Vendredi, 12 de fevereiro de 1937). 
[I 6a, 3] 
Baudelaire na introdução à “Filosofia do mobiliário” (de Poe), originalmente publicada em outubro de 1852, em Le Magasin des Familles: “Qual dentre nós, nas longas horas de lazer, não experimentou um delicioso prazer em construir para si um apartamento modelar, um domicílio ideal, um ‘sonhadouro’?” Charles Baudelaire, Œuvres Complètes , Ed. Crépet, Histoires Grotesques et Sérieuses par Poe, Paris, 1937, p. 304.13
 [I 8, 3]
 
13 Baudelaire, OC II, p. 290. (J.L.) 

BENJAMIN, Walter (1892-1940). Passagens / Das Passagen-WerkWalter Benjamin; edição alemã de Rolf Tiedemann; organização da edição brasileira Willi Bolle; colaboração na organização da edição brasileira Olgária Chain Féres Matos; tradução do alemão Irene Aron; tradução do francês Cleonice Paes Barreto Mourão; revisão técnica Patrícia de Freitas Camargo; pósfácios Willie Bolle e Olgária Chain Féres Matos; introdução à edição alemã (1982) Rolf Tiedemann. Belo Horizonte: Editora UFMG; São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2009.

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