Porché chama a atenção para o fato de Baudelaire ter mantido durante toda a vida a
mentalidade de um filho de boa família. — Muito instrutivo neste sentido: “Há em
toda transformação alguma coisa de infame e de agradável ao mesmo tempo, um
elemento de deslealdade e de mudança de situação. Isso basta para explicar a Revolução
Francesa.” A observação faz lembrar Proust — que também foi um filho de boa família.
O histórico projetado no íntimo.
[J 28a, 3]
Encontro entre Baudelaire e Proudhon em 1848, no escritório do jornal Le Représentant du
Peuple; este encontro é casual e termina com um jantar comum na Rue Neuve-Vivienne.
[J 28a, 4]
[...]
Em 1845, “The Gold Bug” é traduzido por Alphonse Borghers como “Le scarabée d’or”
(O escaravelho de ouro) na Revue Britannique. No ano seguinte, aparece uma adaptação,
com o nome do autor em código, do “Duplo assassinato na Rue Morgue” em La Quotidienne,
onde o nome de Poe não é mencionado. Para Baudelaire, segundo Asselineau, foi decisiva
a tradução de “O gato negro”, em La Démocratie Pacifique, por Isabelle Meunier (1847).
É significativo que, a julgar pela publicação, a primeira tradução de Poe por Baudelaire
foi a “Revelação magnética”.
[J 28a, 8]
[...]
“Foi graças ao lazer que, em parte, cresci. — Para meu prejuízo, porque o lazer sem fortuna
aumenta as dívidas... Mas também para meu grande proveito, relativamente a sensibilidade,
à meditação... Os outros homens de letras são, na maior parte, vis picaretas muito
ignorantes.” Cit. em Porché, La Vie Douloureuse de Charles Baudelaire, Paris, 1926, p 116.
[J 29, 5]
[...]
Do necrológio de Gautier, Le Moniteur, 9 de setembro de 1867: “Nascido na índia e
conhecendo a fundo a língua inglesa, ele começou por traduções de Edgar Poe.” Théophile
Gautier, Portraits Contemporains, Paris, 1847, p. 159.
[J 29a, 2]
O necrológio de Gautier é dedicado pelo menos em sua metade a Poe. A parte dedicada às
Fleurs du Mal repousa nas metáforas que Gautier toma emprestadas a um conto de
Hawthorne: “Nunca lemos as Fleurs du Mal, de Ch. Baudelaire sem pensar,
involuntariamente, neste conto de Hawthorne; elas têm essas cores sombrias e metálicas,
essas folhagens verde-acinzentadas e esses odores que sobem à cabeça. Sua musa se parece
com a filha do doutor, que nenhum veneno poderia atingir, mas cuja tez, por sua palidez
exangue, revela o ambiente em que habita.” Théophile Gautier, Portraits Contemporains,
Paris, 1874, p. 163.
[J 29a, 3]
[...]
A “Revelação magnética”, que certamente não tem grande peso na obra de Poe, é a única
novela do autor traduzida por Baudelaire enquanto Poe ainda vivia. Em 1852, biografia de
Poe na Revue de Paris, em 1854, início do trabalho de tradução.
[J 30, 7]
Lembrar que Jeanne Duval foi o primeiro amor de Baudelaire.
[J 30, 8]
Durante os anos de desavença com Aupick, encontros com a mãe no Louvre.
[J 30, 9]
[...]
Porché (p. 98) chama a atenção sobre o fato de que os encontros de Baudelaire com Saliz,
Ancelle, Aupick eram de tipo específico.
[J 30, 11]
Preocupação sexual, como o revelam os títulos dos romances planejados: “Os Ensinamentos
de um Monstro”, “Uma Infame Adorada”, “A Amante do Idiota”, “As Lésbicas”, “O Cafetão”.
[J 30, 12]
[...]
Extraído de Schaunard, Souvenirs, Paris, 1887 (cit. em Crépet, p. 160): “Detesto o campo,
diz Baudelaire, para explicar sua pressa em deixar Honfleur, sobretudo no bom tempo.
A persistência do sol me oprime... Ah! fele-me dos céus parisienses sempre mutáveis, que riem e choram ao sabor do vento, e sem que jamais suas alternâncias de calor e de umidade
possam ser úteis a estúpidos cereais... Eu ofenderei talvez suas convicções de paisagista,
mas lhe direi que a água em liberdade é, para mim, insuportável; quero-a prisioneira, na
canga, nos muros geométricos de um cais. Meu passeio preferido é a margem do canal de
l’Ourcq.”
[J 31, 2]
[...]
A incomparável força da descrição da multidão cm Poe. Pensa-se nas primeiras litografias
de Senefelder, como O Clube de Jogo, A Multidão Após o Cair da Noite: “Os raios dos bicos
de gás, fracos de início, quando lutavam com a luz do poente, tinham agora intensidade e
lançavam sobre todas as coisas uma luz cintilante e agitada. Tudo era escuro, mas brilhante - como este ébano ao qual se comparou o estilo de Tertuliano.” Edgar Poe, Nouvelles
Histoires Extraordinaires, tradução de Charles Baudelaire, Paris, 1886, p. 94. ■ Flâneur ■
[J 31a, 4]
“A imaginação não é a fantasia... A imaginação é uma faculdade quase divina que percebe
... as relações íntimas e secretas das coisas, as correspondances e as analogias.” Baudelaire,
“Nouvelles notes sur Edgar Poe” (Nouvelles Histoires Extraordinaires, pp. 13-14).
[J 31a, 5]
BENJAMIN, Walter (1892-1940). Passagens / Das Passagen-Werk / Walter Benjamin; edição alemã de Rolf Tiedemann; organização da edição brasileira Willi Bolle; colaboração na organização da edição brasileira Olgária Chain Féres Matos; tradução do alemão Irene Aron; tradução do francês Cleonice Paes Barreto Mourão; revisão técnica Patrícia de Freitas Camargo; pósfácios Willie Bolle e Olgária Chain Féres Matos; introdução à edição alemã (1982) Rolf Tiedemann. — Belo Horizonte: Editora UFMG; São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2009.

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