11.8.25

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Porché chama a atenção para o fato de Baudelaire ter mantido durante toda a vida a mentalidade de um filho de boa família.  Muito instrutivo neste sentido: “Há em toda transformação alguma coisa de infame e de agradável ao mesmo tempo, um elemento de deslealdade e de mudança de situação. Isso basta para explicar a Revolução Francesa.” A observação faz lembrar Proust  que também foi um filho de boa família. O histórico projetado no íntimo.
[J 28a, 3]
Encontro entre Baudelaire e Proudhon em 1848, no escritório do jornal Le Représentant du Peuple; este encontro é casual e termina com um jantar comum na Rue Neuve-Vivienne.
[J 28a, 4]
[...]
Em 1845, “The Gold Bug” é traduzido por Alphonse Borghers como “Le scarabée d’or” (O escaravelho de ouro) na Revue Britannique. No ano seguinte, aparece uma adaptação, com o nome do autor em código, do “Duplo assassinato na Rue Morgue” em La Quotidienne, onde o nome de Poe não é mencionado. Para Baudelaire, segundo Asselineau, foi decisiva a tradução de “O gato negro”, em La Démocratie Pacifique, por Isabelle Meunier (1847). É significativo que, a julgar pela publicação, a primeira tradução de Poe por Baudelaire foi a “Revelação magnética”.
[J 28a, 8]
[...]
“Foi graças ao lazer que, em parte, cresci. — Para meu prejuízo, porque o lazer sem fortuna aumenta as dívidas... Mas também para meu grande proveito, relativamente a sensibilidade, à meditação... Os outros homens de letras são, na maior parte, vis picaretas muito ignorantes.” Cit. em Porché, La Vie Douloureuse de Charles Baudelaire, Paris, 1926, p 116.
[J 29, 5]
[...]
Do necrológio de Gautier, Le Moniteur, 9 de setembro de 1867: “Nascido na índia e conhecendo a fundo a língua inglesa, ele começou por traduções de Edgar Poe.” Théophile Gautier, Portraits Contemporains, Paris, 1847, p. 159.
[J 29a, 2]
O necrológio de Gautier é dedicado pelo menos em sua metade a Poe. A parte dedicada às Fleurs du Mal repousa nas metáforas que Gautier toma emprestadas a um conto de Hawthorne: “Nunca lemos as Fleurs du Mal, de Ch. Baudelaire sem pensar, involuntariamente, neste conto de Hawthorne; elas têm essas cores sombrias e metálicas, essas folhagens verde-acinzentadas e esses odores que sobem à cabeça. Sua musa se parece com a filha do doutor, que nenhum veneno poderia atingir, mas cuja tez, por sua palidez exangue, revela o ambiente em que habita.” Théophile Gautier, Portraits Contemporains, Paris, 1874, p. 163.
[J 29a, 3]
[...]
A “Revelação magnética”, que certamente não tem grande peso na obra de Poe, é a única novela do autor traduzida por Baudelaire enquanto Poe ainda vivia. Em 1852, biografia de Poe na Revue de Paris, em 1854, início do trabalho de tradução.
[J 30, 7]
Lembrar que Jeanne Duval foi o primeiro amor de Baudelaire.
[J 30, 8]
Durante os anos de desavença com Aupick, encontros com a mãe no Louvre.
[J 30, 9]
[...]
Porché (p. 98) chama a atenção sobre o fato de que os encontros de Baudelaire com Saliz, Ancelle, Aupick eram de tipo específico.
[J 30, 11]
Preocupação sexual, como o revelam os títulos dos romances planejados: “Os Ensinamentos de um Monstro”, “Uma Infame Adorada”, “A Amante do Idiota”, “As Lésbicas”, “O Cafetão”.
[J 30, 12]
[...]
Extraído de Schaunard, Souvenirs, Paris, 1887 (cit. em Crépet, p. 160): “Detesto o campo, diz Baudelaire, para explicar sua pressa em deixar Honfleur, sobretudo no bom tempo. A persistência do sol me oprime... Ah! fele-me dos céus parisienses sempre mutáveis, que riem e choram ao sabor do vento, e sem que jamais suas alternâncias de calor e de umidade possam ser úteis a estúpidos cereais... Eu ofenderei talvez suas convicções de paisagista, mas lhe direi que a água em liberdade é, para mim, insuportável; quero-a prisioneira, na canga, nos muros geométricos de um cais. Meu passeio preferido é a margem do canal de l’Ourcq.”
[J 31, 2]
[...]
A incomparável força da descrição da multidão cm Poe. Pensa-se nas primeiras litografias de Senefelder, como O Clube de Jogo, A Multidão Após o Cair da Noite: “Os raios dos bicos de gás, fracos de início, quando lutavam com a luz do poente, tinham agora intensidade e lançavam sobre todas as coisas uma luz cintilante e agitada. Tudo era escuro, mas brilhante - como este ébano ao qual se comparou o estilo de Tertuliano.” Edgar Poe, Nouvelles Histoires Extraordinaires, tradução de Charles Baudelaire, Paris, 1886, p. 94. ■ Flâneur ■
[J 31a, 4]
“A imaginação não é a fantasia... A imaginação é uma faculdade quase divina que percebe ... as relações íntimas e secretas das coisas, as correspondances e as analogias.” Baudelaire, “Nouvelles notes sur Edgar Poe” (Nouvelles Histoires Extraordinaires, pp. 13-14).
[J 31a, 5]

BENJAMIN, Walter (1892-1940). Passagens / Das Passagen-WerkWalter Benjamin; edição alemã de Rolf Tiedemann; organização da edição brasileira Willi Bolle; colaboração na organização da edição brasileira Olgária Chain Féres Matos; tradução do alemão Irene Aron; tradução do francês Cleonice Paes Barreto Mourão; revisão técnica Patrícia de Freitas Camargo; pósfácios Willie Bolle e Olgária Chain Féres Matos; introdução à edição alemã (1982) Rolf Tiedemann. Belo Horizonte: Editora UFMG; São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2009.

 

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