Em Blanqui, o espaço cósmico tornou-se abismo. O abismo de Baudelaire não possui
estrelas. Não deve ser definido como espaço cósmico. Não é tampouco o abismo exótico da
teologia. E um abismo secularizado: o do saber e dos significados. O que constitui o seu
índice histórico? Em Blanqui, o abismo tem o índice histórico da ciência mecanicista da
natureza. Será que em Baudelaire o abismo não possui o índice social da nouveauté? Não
seria o arbítrio da alegoria um irmão gêmeo da moda?
[J 24, 2]
[...]
Total desligamento de Poe da grande poesia. Ele troca cinqüenta Molières por um Fouqué.19 A Ilíada e Sófocles não lhe dizem nada. Esta perspectiva está provavelmente relacionada
com a teoria da arte pela arte. Qual era a posição de Baudelaire?
[J 24,6]
[...]
Les aveugles <OC I, p. 92> — Crépet dá como fonte uma passagem sobre a postura da
cabeça dos cegos, extraído de Des Vetters Eckfenster” (A janela de esquina do meu primo).
Hoffmann considera edificante o olhar voltado para cima.
[J 24a, 2]
[...]
A famosa observação de Valéry sobre Baudelaire remonta no fundo às sugestões de Sainte-
Beuve enviadas a Baudelaire para sua defesa. “No domínio da poesia, tudo era tomado.
Lamartine havia tomado os céus. Victor Flugo, a terra e mais que a terra. Laprade, as florestas.
Musset, a paixão e a orgia fascinante. Outros, o lar, a vida rural etc. Théophile Gautier, a
Espanha e suas cores vivas. O que restava? O Baudelaire pegou. Ele foi como que forçado a
isso...” Cit. em Porché, La Vie Douloureuse de Charles Baudelaire, Paris, 1926, p. 205.
[24a, 5]
[...]
“Uma noite em que entrou num baile público, Charles Monselet o abordou: ‘O que você
faz aqui?’ — ‘Meu caro’, respondeu Baudelaire, ‘Vejo passar cabeças de mortos!’” Alphonse
Séché. La Vie des Fleurs du Mal, Amiens, 1928, p. 32.
[J 25, 1]
[...]
O Figaro publica (data?) um artigo de Gustave Burdin, escrito a pedido de Billaut. Pouco
antes, Billaut tinha sofrido — como juiz ou promotor - uma derrota por conta da absolvição
ie Flaubert no processo devido a Madame Bovary. Poucos dias depois, o artigo de Thierry
no Moniteur. “Por que Sainte-Beuve ... deixou a Thierry o cuidado de falar aos leitores do
Moniteur sobre as Fleurs du Mal? Sainte-Beuve teria se recusado a escrever sobre o livro de
Baudelaire porque julgava que devia manter prudência, para apagar o efeito negativo
produzido junto ao governo por seu artigo sobre Madame Bovary.” Alphonse Séché, La Vie
des Fleurs du Mal, 1928, pp. 156-157.
[J 25a, 5]
[...]
Seillière cita (p. 234) d’Aurevilly: “A finalidade oculta de Poe era aterrorizar a imaginação
de seu tempo... Hoffmann não possui esse terrível poder.” Isto provavelmente também
vale para Baudelaire.
[J 27, 5]
19 Cf. Edgar Allan Poe, The Complete Works [Virgínia Edition], vol. XI, Nova York, 1902, pp. 89-90. (R.T)
BENJAMIN, Walter (1892-1940). Passagens / Das Passagen-Werk / Walter Benjamin; edição alemã de Rolf Tiedemann; organização da edição brasileira Willi Bolle; colaboração na organização da edição brasileira Olgária Chain Féres Matos; tradução do alemão Irene Aron; tradução do francês Cleonice Paes Barreto Mourão; revisão técnica Patrícia de Freitas Camargo; pósfácios Willie Bolle e Olgária Chain Féres Matos; introdução à edição alemã (1982) Rolf Tiedemann. — Belo Horizonte: Editora UFMG; São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2009.

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