7.8.25

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Em Blanqui, o espaço cósmico tornou-se abismo. O abismo de Baudelaire não possui estrelas. Não deve ser definido como espaço cósmico. Não é tampouco o abismo exótico da teologia. E um abismo secularizado: o do saber e dos significados. O que constitui o seu índice histórico? Em Blanqui, o abismo tem o índice histórico da ciência mecanicista da natureza. Será que em Baudelaire o abismo não possui o índice social da nouveauté? Não seria o arbítrio da alegoria um irmão gêmeo da moda?
[J 24, 2]
[...]
Total desligamento de Poe da grande poesia. Ele troca cinqüenta Molières por um Fouqué.19 A Ilíada e Sófocles não lhe dizem nada. Esta perspectiva está provavelmente relacionada com a teoria da arte pela arte. Qual era a posição de Baudelaire?
[J 24,6]
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Les aveugles <OC I, p. 92>  Crépet dá como fonte uma passagem sobre a postura da cabeça dos cegos, extraído de Des Vetters Eckfenster” (A janela de esquina do meu primo). Hoffmann considera edificante o olhar voltado para cima.
[J 24a, 2]
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A famosa observação de Valéry sobre Baudelaire remonta no fundo às sugestões de Sainte- Beuve enviadas a Baudelaire para sua defesa. “No domínio da poesia, tudo era tomado. Lamartine havia tomado os céus. Victor Flugo, a terra e mais que a terra. Laprade, as florestas. Musset, a paixão e a orgia fascinante. Outros, o lar, a vida rural etc. Théophile Gautier, a Espanha e suas cores vivas. O que restava? O Baudelaire pegou. Ele foi como que forçado a isso...” Cit. em Porché, La Vie Douloureuse de Charles Baudelaire, Paris, 1926, p. 205.
[24a, 5]
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“Uma noite em que entrou num baile público, Charles Monselet o abordou: ‘O que você faz aqui? — Meu caro, respondeu Baudelaire, Vejo passar cabeças de mortos!’” Alphonse Séché. La Vie des Fleurs du Mal, Amiens, 1928, p. 32.
[J 25, 1]
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O Figaro publica (data?) um artigo de Gustave Burdin, escrito a pedido de Billaut. Pouco antes, Billaut tinha sofrido — como juiz ou promotor - uma derrota por conta da absolvição ie Flaubert no processo devido a Madame Bovary. Poucos dias depois, o artigo de Thierry no Moniteur. “Por que Sainte-Beuve ... deixou a Thierry o cuidado de falar aos leitores do Moniteur sobre as Fleurs du Mal? Sainte-Beuve teria se recusado a escrever sobre o livro de Baudelaire porque julgava que devia manter prudência, para apagar o efeito negativo produzido junto ao governo por seu artigo sobre Madame Bovary. Alphonse Séché, La Vie des Fleurs du Mal, 1928, pp. 156-157.
[J 25a, 5]
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Seillière cita (p. 234) d’Aurevilly: “A finalidade oculta de Poe era aterrorizar a imaginação de seu tempo... Hoffmann não possui esse terrível poder.” Isto provavelmente também vale para Baudelaire.
[J 27, 5]
19 Cf. Edgar Allan Poe, The Complete Works [Virgínia Edition], vol. XI, Nova York, 1902, pp. 89-90. (R.T)  

BENJAMIN, Walter (1892-1940). Passagens / Das Passagen-WerkWalter Benjamin; edição alemã de Rolf Tiedemann; organização da edição brasileira Willi Bolle; colaboração na organização da edição brasileira Olgária Chain Féres Matos; tradução do alemão Irene Aron; tradução do francês Cleonice Paes Barreto Mourão; revisão técnica Patrícia de Freitas Camargo; pósfácios Willie Bolle e Olgária Chain Féres Matos; introdução à edição alemã (1982) Rolf Tiedemann. Belo Horizonte: Editora UFMG; São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2009.

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