4.11.25

continua/benjamin/passagens/Das Passagen-Werk/continua

A propósito do catálogo de emblemas representado pelo poema “Lirrérnédiable”, Crépet cita uma passagem das Soirées de Sãint-Pétersbourg: "Este rio que só se atravessa uma vez; este tonel das Danaides sempre cheio e sempre vazio; este fígado de Tityus sempre renascendo sob o bico do abutre que sempre o devora ... são outros tantos hieróglifos eloqüentes sobre os quais é impossível enganar-se.”57
[J 70, 5]
O gesto da bênção com os braços erguidos, em Fidus (também em Zaratustra?)   o gesto de alguém que carrega um fardo.
[ J 70, 6]
No “Projet d’un épilogue”: “Teus paralelepípedos mágicos erguidos em fortalezas, / Teus pequenos oradores, empolados à maneira barroca, / Pregando o amor, e depois teus esgotos cheios de sangue, / Abismando-se no Inferno como Orenocos.” (vol. I, p. 229 <OC I, p. 192>).
[J 70a, 1]
“Bénédiction” apresenta a vida do poeta como uma paixão. “Ele se embriaga cantando a via crucis <OC I, p. 8>. Em certas passagens, o poema lembra vagamente a visão na qual Apollinaire em Le Poète Assassiné descreveu o extermínio dos poetas pelo filisteu desenfreado: “E os imensos clarões de seu espírito lúcido / Dissimulam-lhe o aspecto dos povos furiosos.”
[J 70a, 2]
Um olhar à Blanqui sobre a humanidade (ao mesmo tempo, um dos raros versos de Baudelaire que desenvolvem um aspecto cósmico): “Ó Céu! / tampa sombria da imensa marmita / Onde ferve a imperceptível e vasta Humanidade.” (“Le couvercle” <OC I, p. 141>).
[J 70a, 3]
São sobretudo os suvenires aos quais se aplica o “olhar familiar” (este olhar, que não é senão o olhar de certos retratos, lembra Poe).
[J 70a, 4]
[...]
“Cibele, que os ama, aumenta suas verduras” <OC I, p. 18>  segundo a bela tradução de Brecht: “Cybele, die sie liebt, legt mehr Grün vor” (Cibele, que os ama, aumenta o verde). Eis aqui um deslocamento do elemento orgânico.
[J 70a, 6]
57 Ch. Baudelaire, Œuvres Complètes, vol. I: Les Fleurs du Mal. Les Épaves, ed. org. por Jacques Crépet, 2 a ed., Paris, 1930, p. 449. (R.T.) 

BENJAMIN, Walter (1892-1940). Passagens / Das Passagen-WerkWalter Benjamin; edição alemã de Rolf Tiedemann; organização da edição brasileira Willi Bolle; colaboração na organização da edição brasileira Olgária Chain Féres Matos; tradução do alemão Irene Aron; tradução do francês Cleonice Paes Barreto Mourão; revisão técnica Patrícia de Freitas Camargo; pósfácios Willie Bolle e Olgária Chain Féres Matos; introdução à edição alemã (1982) Rolf Tiedemann. Belo Horizonte: Editora UFMG; São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2009.

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