“Alan: (...)
Acho que o último estágio dessa narrativa veio a acontecer no capítulo... Quatro? Certo?... de Do Inferno, quando Gull e Netley se deliciam com uma bela fatia de torta de carne in Earl’s Court, e Gull argumenta que a mente humana é o único lugar em que os deuses indubitavelmente existem, ‘onde são reais em toda a nossa grandeza e monstruosidade’
ou algo assim. (...) Acho que essa foi mais ou menos a ordem das coisas
que aconteceram comigo, embora não veja hoje os eventos da vida assim,
como um fluxo linear, o que torna um relato cronológico um problema,
para dizer o mínimo.
[...]
Alan: (...) ideias acerca do que os deuses de fato seriam — conjuntos de ideias autorreferentes que, ao romper certas fronteiras de complexidade, se tornaram conscientes ou então aparentemente conscientes (...) a dupla hélice espiralada do nosso DNA, o código que perpassa toda a vida e toda a consciência e do qual somos extensões experimentais, (...), o desdenhoso relato de LUCIANO sobre a verdadeira origem de Glycon como marionete me impactou muito, (...). Acredito que todos os deuses são histórias, ou, quando muito, ideias que precedem histórias, mas são histórias ou ideias que se tornaram, de certo modo, quase vivas ou conscientes, ou que ao menos parecem vivas ou conscientes, ao menos para qualquer intenção ou propósito prático. Assim, do meu ponto de vista, a ideia de um deus seria o próprio deus. Ora, se o ilusionista original, LUCIANO, achou por bem adicionar a essa ideia tão poderosa um toque de malandragem, envolvendo uma jiboia domesticada e um tubo acústico, isso em nada prejudica o fato de que a ideia central por trás da divindade poderia ser boa ou útil; poderia, inclusive, tratar-se de uma divindade real, mesmo que metafísica. Da minha perspectiva, um dos equívocos do cristianismo é insistir na existência de um Jesus histórico. O que isso significa, de fato, é que se um dia fosse provado que a pessoa Jesus não existiu, o cristianismo desabaria, incluindo suas visões filosóficas bastante consistentes. Na verdade, não há necessidade alguma de tal colapso. Agora, confessar que seu deus não passava de um efeito especial discursivo me parece bem mais honesto e talvez, em última instância, uma estratégia mais frutífera. (...)
Eddie: Em entrevistas anteriores, você pareceu definir o tipo popular de entretenimento de palco, como tirar coelhos da cartolas e pombas de lenços, como certa continuidade de um tipo de magia oculta mais superior. Eu gosto dessa argumentação. Parece comparável a ver histórias em quadrinho e pintura clássica como ‘escolhas’ em vez de conceitos mutuamente exclusivos e opostos. Seria a sua um tipo de magia pós-moderna?
Alan: (...) Da minha perspectiva, que é mais pré-histórica do que pós-moderna, parece-me que ambas as práticas têm a ver com a manipulação da percepção humana e, portanto, com a manipulação da consciência humana. (...)
[...]
Alan: (...) Isso me fez pensar no que de fato constitui a realidade de um lugar. Obviamente, há mais em nossa experiência de que um lugar do que tijolos e argamassa. Nossa relação a vários lugares parece-me depender da riqueza da rede de associações que conectamos a esses lugares. Uma tediosa rua suburbana terá muito mais significado, por exemplo, se você cresceu naquela vizinhança e carrega consigo memórias diferentes de períodos diferentes de sua história pessoal, que obviamente você associa a ela. De modo similar, se você souber a história daquela rua específica nos séculos anteriores ao seu nascimento, a experiência de sua arquitetura será proporcionalmente mais rica e significativa. Agora, se você for um mago praticante ou um poeta e tiver uma rede de sistemas simbólicos para decodificar acontecimentos ou mesmo impressões ocasionais, então sua experiência será ainda mais rica e significativa. (...)
[...]
Alan: (...) Porém, se você ler novamente aquele capítulo, talvez note a extensão do meu desconforto com aparições literárias pessoais, isso porque as palavras ‘eu’, ‘me’, e ‘meu’ não são usadas em lugar nenhum daquele capítulo. (...)
[...]
Alan: Ao desejar que cada capítulo do livro fosse narrado por uma voz em primeira pessoa do período em questão, de pronto notei que um dos maiores desafios seria evitar que a voz interior do cobrador de impostos romano soasse como a voz interior de John Clare ou como a cabeça decepada de Francis Tresham ou de qualquer outro narrador do tipo. Para chegar no que eu queria, me pareceu necessário deixar que a voz do personagem viesse a mim em vez de tentar desenvolvê-la de forma lógica ou racional. (...) Foi mais como sintonizar minha imaginação em frequências cronológicas diversas de determinada paisagem mental geográfica e de determinado modo de falar, deixando que vozes enterradas ou esquecidas surgissem.”
BLAKE, William (1757-1827). / with 393 plates, 366 in colour / William Blake; handwritten text with his imagery on pages; this edition, produced together with The William Blake Trust, contains all the pages of Blake’s twenty or so illuminated books reproduced in true size; and an appendix with all Blake’s text set in type; Jerusalem; Songs of Innocence and of Experience; All Religions are One; There is No Natural Religion; The Book of Thel; The Marriage of Heaven and Hell; Visions of the Daughters of Albion; America a Prophecy; Europe a Prophecy; The Song of Los Milton a Poem; The Ghost of Abel; On Homers Poetry [and] On Virgil; Laocoön; The First Book of Urizen; The Book of Ahania; The Book of Los; introduction by the noted Blake scholar, David Bindman. — London: Thames & Hudson (in association with The William Blake Trust), 2008.
CROWLEY, Aleister (1875-1947). O livro da Lei: LIBER AL VEL LEGIS / The Book of the Law / Aleister Crowley; traduzido por Marina Della Valle e Fernando Pessoa; prefácio de M.B.; bilíngue e com o manuscrito. — São Paulo: Editora Campos, 2017. (Selo Chave)
LUCIANO/ ΛΟΥΚΙΑΝΟΣ (125 d.C.-180 d.C.)/ Diálogo dos Mortos / Ἑταιρικοὶ Διάλογοι /tradução e notas Maria Celeste Consolin Dezotti; edição bilíngue; imagens de obras gregas antigas. — São Paulo: Editora HUCITEC, 1996.
MALLARMÉ, Stéphane (1842-1898). Mallarmé / Un Coup de Dés Jamais n’Abolira le Hasard / Um Lance de Dados Jamais Abolirá o Acaso / Stéphane Mallarmé; traduzido por Haroldo de Campos; bilíngue. — São Paulo: Editora Perspectiva, 2002.
MALLARMÉ, Stéphane (1842-1898). Poemas / Igitur ou La Folie d’Elbehnon / Igitur ou A Loucura de Elbehnon / Un Coup de Dés Jamais n’Abolira le Hasard (morceau) / Um Lance de Dados Jamais Abolirá o Acaso (trecho) /Le Livre (morceau) / O Livro (trecho) / Stéphane Mallarmé; traduzido e notas por José Lino Grünewald; bilíngue. — Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1990.
MOORE,
Alan. A Saga do Monstro do Pântano / Alan Moore, Steve Bissete e
John Totleben; colorido por Tatjana Wood; introdução Alan Moore;
1983-4; tradução Heitor Pitombo; editores e prefacio Odair Braz Junior e
Cassius Medauar letras Lilian Mitsunaga. Saga of the swamp thing. — Rio de Janeiro: Pixel Media, 2007.
_________________. A Saga do Monstro do Pântano
livro dois / Alan Moore, Stephen Bissete, John Totleben; mais Shawn
McManus, Rick Veitch, Alfredo Alcala, Ron Randall, Bernie Wrightson; colorido por Tatjana Wood; introdução Jamie Delano; prefácio Neil Gaiman;
1984-5; tradução Edu Tanaka. Saga of the swamp thing book two. — São Paulo: Vertigo/Panini Brasil.
_________________. A Saga do Monstro do Pântano volume três / Alan Moore, Stephen Bissete, John Totleben; mais Stan Woch,
Rick Veitch, Alfredo Alcala, Ron Randall;
1985; Padrões de Crescimento, em The Saga of the Swamp Thing#37, onde aparece John Constantine; tradução Agria. Saga of the swamp thing. — São Paulo: Vertigo/Brainstore Editora, 2003.
_________________. A Saga do Monstro do Pântano
livro quatro / Alan Moore, Stephen Bissete, John Totleben, Stan Woch;
mais Rick Veitch, Alfredo Alcala, Ron Randall, Tom Mandrake; colorido por Tatjana Wood; introdução Charles Shaarv Muray; prefácio Neil Gaiman;
1985-6; tradução Edu Tanaka. Saga of the swamp thing book four. — São Paulo: Vertigo/Panini Brasil.
_________________. A Saga do Monstro do Pântano
livro cinco / Alan Moore, Rick Veitch, John Totleben, Alfredo Alcala; colorido por Tatjana Wood; introdução Stephen R.Bissete;
1986-7; tradução Edu Tanaka. Saga of the swamp thing book five. — São Paulo: Vertigo/Panini Brasil.
_________________. A Saga do Monstro do Pântano
livro seis / Alan Moore, Rick Veitch, John Totleben, Alfredo Alcala; mais Stephen Bissete, Tom Yeates; colorido por Tatjana Wood; introdução Stephen R.Bissete;
1987; tradução Edu Tanaka. Saga of the swamp thing book six. — São Paulo: Vertigo/Panini Brasil.
_________________. Do Inferno 1 / Alan Moore e Eddie Campbell; 1989; tradução Jotapê Martins. From Hell. — São Paulo: Via Lettera, 2005.
_________________. Do Inferno 2 / Alan Moore e Eddie Campbell; 1989; tradução Jotapê Martins. From Hell. — São Paulo: Via Lettera, 2005.
_________________.
Do Inferno 3 / Alan Moore e Eddie Campbell; 1989; tradução Jotapê
Martins; editores Jotapê Martins e Monica Seincman. From Hell. — São
Paulo: Via Lettera, 2003.
_________________. Do Inferno 4 / Alan Moore e Eddie Campbell; 1989; tradução Jotapê Martins. From Hell. — São Paulo: Via Lettera, 2001.
MORRIS, William (1834-1896). sobre as artes do livro / William Morris; edição e introdução Gustavo Piqueira; tradução Adriano de Paula Rabelo; fac-símile de páginas coloridas de Morris. — Cotia, SP: Ateliê Editorial, 2020. — (Coleção artes do livro / coordenação Plinio Martins Filho).
_________________. Elementos do estilo tipográfico / Robert Bringhurst; tradução Adriano André Stolarski; Golden Type, de William Morris; Elements of typographic style. — São Paulo: Cosac Naify, 2005.
_________________. Aldo Manuzio: Editor, Tipógrafo, Livreiro: As Pegadas de Aldo Manuzio / Enric Satué; prólogo de Oriol Bohigas; tradução de Cláudio Giordano; exemplos de Morris. El disseny de llibres del passat, del present i, tal vegada, del futur: la petjada d’Aldo Manuzio. — Cotia, SP: Ateliê Editorial, 2004.
_________________. Mastering Type: The Essential Guide to Typography / Denise Bosler; some colored examples of pages created by Morris. — Ontario: HOW Books, 2012.
ROSSETI, Dante Gabriel (1828-1882). Grandes poetas da língua inglesa do século XIX/ Soneto é um monumento do momento / A sonet is a monument’s monument, — / Sem ela / Without her / Dante Gabriel Rossetti [Gabriel Charles Dante Rossetti]; seleção, organização e tradução José Lino Grünewald; edição bilíngue. — Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1988.
A clavícula de Salomão / Clavicula Salomonis [por Samuel Lidell Mathers] / traduzido por Marina Della Valle; prefácio de S.Liddel Macgregor Mathers. — São Paulo: Editora Campos, 2015. (Selo Chave)
YEATS, W.B. (1865-1939). Uma Visão / A Vision / W.B.Yeats (William Butler Yeats); tradução Ana Luísa Faria a partir da edição de 1937, da Macmillan, integrando as alterações introduzidas em 1962. — Lisboa: Relógio D’Água Editores, 1994.




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