28.6.25

Bertolt Brecht/Poemas 1913-1956/Paulo César de Souza/continua

BRECHT, Bertolt. 1898-1956. Poemas 1913-1956 / Bertolt Brecht (Eugen Bertholt Friedrich Brecht); seleção, tradução e comentário de Paulo César de Souza; texto de 2a e 3a capa Willi Bolle.  São Paulo: Editora 34, 2012.
Dos Poemas de Svendborg 

AOS QUE HESITAM

Você diz:
Nossa causa vai mal.
A escuridão aumenta. As forças diminuem.

Agora, depois que trabalhamos por tanto tempo
Estamos em situação pior que no início.

Mas o inimigo está aí, mais forte do que nunca.
Sua força parece Ter crescido. Ficou com aparência de invencível.
Mas nós cometemos erros, não há como negar.

Nosso número se reduz. Nossas palavras de ordem
Estão em desordem. O inimigo
Distorceu muitas de nossas palavras
Até ficarem irreconhecíveis.

Daquilo que dissemos, o que é agora falso:
Tudo ou alguma coisa?
Com quem contamos ainda? Somos o que restou, lançados fora
Da corrente viva? Ficaremos para trás

Por ninguém compreendidos e a ninguém compreendendo?

Precisamos ter sorte?

Isto você pergunta. Não espere
Nenhuma resposta senão a sua.

NA MORTE DE UM COMBATENTE DA PAZ

À memória de Carl von Ossistscky

Aquele que não cedeu
Foi abatido
O que foi abatido

Não cedeu.

A boca do que preveniu
Está cheia de terra.
A aventura sangrenta

Começa.
O túmulo do amigo da paz
É pisoteado por batalhões.

Então a luta foi em vão?

Quando é abatido o que não lutou só
O inimigo
Ainda não venceu.

 

NO NASCIMENTO DE UM FILHO

(Segundo poema chinês
de Su Tung-po, 1036-1101)

Famílias, quando lhes nascer um filho
Façam votos de que seja inteligente.
Eu, que pela inteligência
Arruinei minha vida

Posso apenas desejar
Que meu filho se revele

Parvo e tacanho.
Assim terá uma vida tranquila

Como ministro do governo.

EPITÁFIO PARA GORKI

Aqui jaz
O enviado dos bairros da miséria
O que descreveu os atormentadores do povo

E aqueles que os combateram
O que foi educado nas ruas
O de baixa extração
Que ajudou a abolir o sistema de Alto e Baixo

O mestre do povo
Que aprendeu com o povo. 

SÁTIRAS ALEMÃS

A QUEIMA DE LIVROS

Quando o regime ordenou que fossem queimados publicamente
Os livros que continham saber pernicioso, e em toda parte
Fizeram bois arrastarem carros de livros
Para as pilhas em fogo, um poeta perseguido

Um dos melhores, estudando a lista dos livros queimados
Descobriu, horrorizado, que os seus
Haviam sido esquecidos. A cólera o fez correr
Célere até sua mesa, e escrever uma carta aos donos do poder.
Queimem-me! Escreveu com pena veloz. Queime-me!

Não me façam uma uma coisa dessas! Não me deixem de lado! Eu não
Relatei sempre a verdade em meus livros? E agora tratam-me
Como um mentiroso! Eu lhes ordeno:

Queime-me! 

DIFICULDADE DE GOVERNAR

1

Os ministros não cansam de dizer ao povo
Como é difícil governar. Sem os ministros
O grão de trigo cresceria para baixo, não para cima.

Nenhum pedaço de carvão sairia das minas
Se o Chanceler fosse tão sábio. Sem o Ministro da Propaganda
Nenhuma mulher ficaria grávida. Sem o Ministro da Guerra
Jamais haveria guerra. Sim, se o sol se levantara de manhã
Sem a permissão do Führer

É inteiramente discutível, e se o fizesse
Seria no lugar errado.

2

Igualmente difícil é, eles nos dizem
Dirigir uma fábrica. Sem o proprietário
As paredes desmoronariam e as máquinas enferrujariam, dizem.
Mesmo que em algum lugar se fabricasse um arado

Ele nunca chegaria a um campo
Sem as palavras sabidas que o empresário escreve aos camponeses: senão
Quem poderia informá-los que existem arados? E o que

Seria de uma fazenda sem o fazendeiro? Certamente
Semeariam centeio onde já se encontram batatas. 

3

Se governar fosse fácil
Não seriam necessários espíritos iluminados como o Führer.
Se o trabalhador soubesse como utilizar sua máquina

E o agricultor soubesse distinguir um campo de uma tábua de fazer macarrão
Não seriam necessário industriais e fazendeiros.

Somente porque todos são tão estúpidos
Precisa-se de alguns tão espertos.

4

Ou é possível que
Governar seja tão difícil
Apenas porque a fraude e a exploração

Exigem algum aprendizado? 

NECESSIDADE DA PROPAGANDA

1

É possível que em nosso país nem tudo ande como deveria andar.
Mas ninguém pode negar que a propaganda é boa.
Mesmo os famintos devem admitir
Que o Ministro da Alimentação fala bem.

2

Quando o regime liquidou mil homens
Num único dia, sem investigação nem processo
O Ministro da Propaganda louvou a paciência infinita do Führer
Que havia esperado tanto para ter a matança
E havia acumulado os patifes de bens e distinções

Fazendo-o num discurso tão magistral, que
Naquele dia não só os parentes das vítimas
Mas também ao próprios algozes choraram.

3

E quando em um outro dia o maior dirigível do Reich
Se desfez em chamas, porque o haviam enchido de gás inflamável
Poupando o gás não-inflamável para fins de guerra
O Ministro da Aeronáutica prometeu diante dos caixões dos mortos

Que não se deixaria desencorajar, o que ocasionou
Uma grande ovação. Dizem que houve aplausos
Até mesmo dentro dos caixões.

4

E como é exemplar a propaganda
Do lixo e do livro do Führer!
Todo mundo é levado a recolher o livro do Führer

Onde quer que esteja jogado.
Para propagar o hábito de juntar trapos*, o poderoso Göring
Declarou-se o maior “juntador de crápulas” de todos os tempos
E para acomodar os crápulas
* fez construir
No centro da capital do Reich
Um palácio ele mesmo do tamanho de uma cidade.

5

Um bom propagandista
Transforma um monte de esterco em local de veraneio.

Quando não há manteiga, ele demonstra
Como um talhe esguio faz um homem esbelto.

Milhares de pessoas que o ouvem discorrer sobre as autoestradas
Alegram-se como se tivessem carros.

Nos túmulos dos que morreram de fome ou em combate
Ele planta louros. Mas já bem antes disso
Falava de paz enquanto os canhões passavam.

6

Somente através de propaganda perfeita
Pôde-se convencer milhões de pessoas
Que o crescimento do Exército constitui obra de paz

Que cada novo tanque é uma pomba da paz
E cada novo regimento uma prova de
Amor à paz.

7

Mesmo assim: bons discursos podem conseguir muito
Mas não conseguem tudo. Muitas pessoas
Já se ouve dizerem: pena
Que a palavra ‘carne’ apenas não satisfaça, e

Pena que a palavra ‘roupa’ aqueça tão pouco.
Quando o Ministro do Planejamento faz um discurso de louvor à nova impostura

Não pode chover, pois seus ouvintes
Não têm com que se proteger.

8

Ainda algo mais desperta dúvidas
Quanto à finalidade da propaganda: quanto mais propaganda há em nosso país

Tanto menos há em outros países.

 *A palavra alemã Lumpen tem os dois sentidos. (N.T.)

OS MEDOS DO REGIME

1

Um estrangeiro, voltando de uma viagem ao Terceiro Reich
Ao ser perguntado quem realmente governava lá,
respondeu: O medo.

2

Amedrontado
O erudito pára no meio de uma discussão e observa

Pálido, as paredes finas do seu gabinete. O professor
Não consegue dormir, preocupado
Com uma frase ambígua que o inspetor deixou escapar.

A velha senhora na mercearia
Coloca os dedos trêmulos sobre a boca, para conter
O xingamento sobre a farinha ruim. Amedrontado
O médico vê as marcas de estrangulamento em seu paciente, e cheios de medo
Os pais olham os filhos como se olhassem para traidores.

Mesmo os moribundos
Amortecem a voz que sai com dificuldade, ao

Despedirem-se dos seus parentes. 

3

Mas, também os camisas-marrons
Têm medo do homem que não levanta o braço
E ficam aterrorizados diante daquele
Que lhes deseja um bom dia.
As vozes agudas dos que dão ordens
Têm tanto medo quanto os guinchos
Dos porcos a esperar a faca do açougueiro, e os mais gordos traseiros
Transpiram medo nas cadeiras de escritório.
Impelidos pelo medo
Eles irrompem nas casas e fazem buscas nos sanitários

E é o medo que os faz
Queimar bibliotecas inteiras. Assim
O temor domina não apenas os dominados, mas também

Os dominadores.

4

Por que
Temem tanto a palavra clara?

5

Em vista do poder imenso do regime
De seus campos de concentração e câmaras de tortura

De seus bem nutridos policiais
Dos juízes intimidados ou corruptos
De seus arquivos com as listas de suspeitos
Que ocupam prédios inteiros até o teto
Seria de acreditar que ele não temeria
Uma palavra clara de um homem simples. 

6

Mas esse Terceiro Reich lembra
A construção do assírio Tar, aquela fortaleza poderosa

Que, diz a lenda, não podia ser tomada por nenhum exército, mas que
Através de uma única palavra clara, pronunciada no interior

Desfez-se em pó.

PENSAMENTOS SOBRE A DURAÇÃO DO EXÍLIO

1

Não jogue prego nenhum na parede
Jogue o casaco na cadeira.
Por que fazer planos para quatro dias?

Amanhã você volta.

Deixe a arvorezinha sem água.
Para que plantar mais uma árvore?

Antes que ela tenha um palmo de altura
Você irá embora, contente.

Desça o boné sobre os olhos, ao cruzar com as pessoas.
Para que estudar uma gramática estrangeira?
A notícia que lhe chama para casa
Está escrita numa língua conhecida.

Assim como a cal desprende da parede
(Nada faça quanto a isso!)
Apodrecerá a cerca da violência
Que foi erguida na fronteira
Para manter longe a justiça.

2

Olhe para o prego que colocou na parede:
Quando acha que voltará?
Quer saber o que pensa no mais íntimo?

Dia após dia
Você trabalha para a libertação.
Sentado no quarto, escreve.
Quer saber o que acha de seu trabalho?
Olhe a pequena castanheira no canto do jardim

Para a qual você levou o jarro d’água

LOCAL DE REFÚGIO

Há um remo no telhado. Um vento brando
Não empurrará a palha.
No pátio foram enfiados postes
Para o balanço das crianças.

O correio chega duas vezes ao dia
Onde cartas seriam bem-vindas.
Pelo estreito vêm os ferry-boats
A casa tem quatro portas, para por elas fugir.

EXPULSO POR BOM MOTIVO

Eu cresci como filho
De gente abastada. Meus pais
Me colocaram um colarinho, e me educaram

No hábito de ser servido
E me ensinaram a dar ordens. Mas quando
Já crescido, olhei em torno de mim
Não me agradaram as pessoas de minha classe,

Nem dar ordens nem ser servido
Então deixei minha classe e me juntei
À gente pequena.

Assim
Eles criaram um traidor, ensinaram-lhe

Suas artes, e ele
Denuncia-os ao inimigo.

Sim, eu conto seus segredos. Fico
Entre o povo e explico
Como eles trapaceiam, e digo o que virá, pois

Estou instruído em seus planos.
O latim de seus clérigos corruptos
Traduzo palavra por palavra em linguagem comum,
então
Ele se revela uma farsa. Tomo

A balança da sua justiça e mostro
Os pesos falsos. E os seus informantes relatam

Que me encontro entre os despossuídos, quando
Tramam a revolta.

Eles me advertiram e me tomaram
O que ganhei com meu trabalho. E quando não me corrigi
Eles foram me caçar, mas

Em minha casa
Encontraram somente escrito que expunham

Suas tramas contra o povo. Então
Enviaram uma ordem de prisão

Acusando-me de ter idéias baixas, isto é
As idéias da gente baixa.

Aonde vou sou marcado
Aos olhos dos possuidores, mas os despossuídos

Leem a ordem de prisão
E me oferecem abrigo. Você, dizem
Foi expulso por bom motivo.

 

AOS QUE VÃO NASCER

1

É verdade, eu vivo em tempos negros.
Palavra inocente é tolice. Uma testa sem rugas

Indica insensibilidade. Aquele que ri
Apenas não recebeu ainda
A terrível notícia.

Que tempos são esses, eu que
Falar de árvores é quase um crime
Pois implica silenciar sobre tantas barbaridades?

Aquele que atravessa a rua tranqüilo
Não está mais ao alcance de seus amigos

Necessitados? 

Sim, ainda ganho meu sustento
Mas acreditem: é puro acaso. Nada do que faço
Me dá direito a comer a fartar.
Por acaso fui poupado. (Se minha sorte acaba, estou perdido.)

As pessoas me dizem: Coma e beba! Alegre-se porque tem!
Mas como posso comer e beber, se
Tiro o que como ao que tem fome
E meu copo d’água falta ao que tem sede?

E no entanto eu como e bebo.

Eu bem gostaria de ser sábio.
Nos velhos livros se encontra o que é sabedoria:

Manter-se afastado da luta do mundo e a vida breve
Levar sem medo
E passar sem violência
Pagar o mal com o bem
Não satisfazer os desejos, mas esquecê-los
Isto é sábio.
Nada disso sei fazer:
É verdade, eu vivo em tempos negros.

2

À cidade cheguei em tempo de desordem
Quando reinava fome.
Entre os homens cheguei em tempo de tumulto

E me revoltei junto com eles.
Assim passou o tempo
Que sobre a terra me foi dado.

A comida comi entre batalhas
Deitei-me para dormir entre assassinos
Do amor cuidei displicente
E impaciente contemplei a natureza.
Assim passou o tempo
Que sobre a terra me foi dado.

As ruas de meu tempo conduziam ao pântano.
A linguagem denunciou-me ao carrasco.
Eu pouco podia fazer. Mas os que estavam por cima

Estariam melhor sem mim, disso tive esperança.
Assim passou o tempo
Que sobre a terra me foi dado.

As forças eram mínimas. A meta
Estava bem distante.
Era bem visível, embora para mim

Quase inatingível.
Assim passou o tempo
Que nesta terra me foi dado.

3

Vocês, que emergirão do dilúvio
Em que afundamos
Pensem
Quando falarem de nossas fraquezas

Também nos tempos negros
De que escaparam.
Andávamos então, trocando de países como de sandálias

Através das lutas de classes, desesperados
Quando havia só injustiça e nenhuma revolta.

Entretanto sabemos:
Também o ódio à baixeza
Deforma as feições.
Também a ira pela injustiça
Torna a voz rouca. Ah, e nós
Que queríamos prepara o chão para o amor

Não pudemos nós mesmos ser amigos.

Mas vocês, quando chegar o momento
Do homem ser parceiro do homem
Pensem em nós
Com simpatia.

Bertolt Brecht/Poemas 1913-1956/Paulo César de Souza/continua

BRECHT, Bertolt. 1898-1956. Poemas 1913-1956 / Bertolt Brecht (Eugen Bertholt Friedrich Brecht); seleção, tradução e comentário de Paulo César de Souza; texto de 2a e 3a capa Willi Bolle.  São Paulo: Editora 34, 2012.
Dos Poemas de Svendborg 

OS TRABALHADORES DE MOSCOU
TOMAM POSSE DO GRANDE METRÔ
EM 27DE ABRIL DE 1935

Assim nos disseram: 80.000 trabalhadores
Construíram o metrô, muitos após o seu dia de trabalho

Frequentemente varando a noite. durante este ano
Viam-se sempre rapazes e garotas a sair das galerias
Sorridentes, mostrando orgulhosos as roupas de trabalho
Sujas de lama, molhadas de suor.
Todas as dificuldades –
Correntes subterrâneas, pressão dos edifícios

Massas de terra que cediam – foram vencidas. Na ornamentação
Não se poupou esforço. O melhor mármore
Foi trazido de longe, as mais belas madeiras
Trabalhadas com apuro. Quase sem ruído
Corriam por fim os belos vagões
Pelas galerias claras como dia: para clientes exigentes
O melhor de tudo.
E quando o metrô estava construído, segundo o mais
perfeito figurino
E vieram os proprietários para visitá-lo e
Nele viajar, eis que eram os mesmos
Que o haviam construído.
Eram milhares que circulavam
Observando os grandes ambientes, e nos trens
Passavam massas de gente, os rostos –
Homens, mulheres e crianças, também velhos –

Voltados para as estações, radiantes como no teatro, pois as estações
Eram construídas de maneiras diferentes, de diferentes pedras
Em diferentes estilos, e também a luz
Tinha fontes diversas. Quem entrava nos vagões
Era empurrado para trás numa alegre confusão
Pois os lugares dianteiros eram os melhores
Para olhar as estações. Em cada estação
As crianças eram erguidas nos braços. Sempre que possível
Os passageiros irrompiam dos carros e observavam

Com olhos críticos e felizes o trabalho feito. Apalpavam as colunas
E avaliavam sua lisura. Com os sapatos

Sentiam o chão, a ver se as pedras
Estavam bem ajustadas. Refluindo de volta aos vagões
Examinavam o revestimento das paredes e tocavam
Nos vidros. Continuamente
Homens e mulheres – incertos de serem realmente
aqueles –
Apontavam lugares onde haviam trabalhado: a pedra

Tinha os vestígios de suas mãos. Cada rosto
Era bem visível, pois havia luz bastante
De muitas lâmpadas, mais do que em qualquer metrô que conheci.
Também as galerias eram iluminadas, não havia um metro de trabalho

Sem iluminação. E tudo aquilo
Fora construído em apenas um ano, e por tantos construtores
Como nenhuma outra via férrea do mundo. E
Nenhuma outra via tivera tantos proprietários.

Pois esta maravilha de construção testemunhava
O que nenhuma das anteriores, em muitas cidades de muitas épocas
Havia testemunhado:
os próprios construtores como senhores!
Onde jamais se vira isso, que os frutos do trabalho
Tocassem a quem havia trabalhado? Onde jamais
Não foram expulsos de uma construção
Os que a haviam erguido?

Ao vê-los viajar em seus carros
Obras de suas mãos, nós sabíamos:
Esta é a visão que certa vez
Abalou os Clássicos que a predisseram.

 
RAPIDEZ DA CONSTRUÇÃO DO SOCIALISMO

Um homem que em 1930 chegou de Nicolaievsk, no rio Amur
Disse, perguntado em Moscou como estavam as coisas por lá:
Como posso saber? Minha viagem
Durou seis semanas, e em seis semanas
Mudou tudo por lá.

[NVP sobre OS TRABALHADORES DE MOSCOU TOMAM POSSE DO GRANDE METRÔ EM 27 DE ABRIL DE 1935: as estações de metrô de Moscou (Москва) que eu gostei: as que ficam perto da Вхутемас e Государственная Академия - МАРХИ: Кузнецкий мост; Лубянка; e Трубная. Fora a homenagem à Maiakovski (Маяковский estação Mayakovskaya (Маяковская) —, com mosaicos no teto de Alexander Deyneka (Алекса́ндр Дейне́ка), que foi aluno da Вхутемас, onde desci para ouvir a primeira Sinfonia de Scriabin  (Скрябин), onde comprei uma caixinha com CDs do Shostakovich (Шостакович) tocando as suas próprias obras.]

конструктивизм. плакат советского авангарда. М.: издательство «Контакт-культура», 2019.

KRUFT, Hanno-Walter. História da Teoria da Arquitetura / Hanno-Walter Kruft; tradução de Oliver Tolle. Geschichte der Architekturtheorie: Von der Antike bis zur Gegenwart. — São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2016. 

MAIAKÓVSKI, Vladimir; Маяковский, Владимир (1893-1930). Mistério-Bufo / Мистерия-Буфф / um retrato heróico, épico e satírico da nossa época (1918) / Vladimir Maikóviski, Владимир Маяковский; tradução de Dmitri Beliaev; edição bilíngue. — São Paulo: Musa Editora, 2001. — (Musa, Teatro; 01)
_________________. 
МАЯКОВСКИЙ—РОДЧЕНКО—РЕКЛАМ—ОНСТРУКТОР. АРХИВ РОДЧЕНКО-СТЕПАНОВОЙ. — Москва: ИЗДАТЕЛЬСТВО “КОНТАКТ-КУЛЬТУРА”, 2018.
_________________. 
«ДЕТЯМ БУДУЩЕГО» МАЯКОВСКИЙ ДВА / КНИГИ 1920-х/1930-х годов. — М.: Арт Волхонка, 2018.
_________________. Poemas
traduções de Augusto de Campos, Haroldo de Campos, Boris Schnaiderman;  capa e projeto gráfico Augusto de Campos; coleção Signos dirigida por Haroldo de Campos6.edição— São Paulo: Editora Perspectiva: 2002.  — (Signos; 10)

Poesia Russa Moderna / traduções de Augusto de Campos, Haroldo de Campos, Boris Schnaiderman; coleção Signos dirigida por Haroldo de Campos; supervisão editorial J.Guinsburg; assessoria editorial Plinio Martins Filho; capa e projeto gráfico Augusto de Campos,  J.Guinsburg, Plinio Martins Filho, Sérgio Kon; revisão, colaboração, prefácio, resumos biográficos e notas de Boris Schnaiderman. 6.ed rev. e ampl.— São Paulo: Editora Perspectiva: 2001.  — (Signos; 33)

SCHNAIDERMAN, Boris (1917-2016). A poética de Maiakóvski, através da sua prosa / Boris Schnaiderman; revisão Boris Schnaiderman; produção Plinio Martins Filho; coleção debates dirigida por J.Guinsburg; 1971. — São Paulo: Editora Perspectiva: 1984.  — (Coleção Debates; 39)

От ВХУТЕМАСа к МАРХИ, Vkhutemas, 1920-1936: архитектурные проекты из собрания Музея МАРХИ. Л. И. Иванова-Везн. — Москва: А-Фонд, 2005.
_________________. 1918-2018
Vkhutemas / O Futuro em Construção / Celso Lima e Neide Jallageas. — São Paulo: музей Мархи; Sesc Pompéia, 2018.

beethoven/op 95/Quator Hongrois/continua/

BEETHOVEN, Ludwig van. Complete String Quartets and Grosse Fuge. Ludwig van Beethoven. From The Breitkopf & Härtel Complete Works Edition. Is an unabridged republication of Serie 6 (Volumes 1 and 2): Quartette für 2 Violinen, Bratsche und Violoncell of Ludwig van Beethovens Werke. Vollständige kritisch durchgesehene überall beerechtigte Ausgabe. Mit Genehmigung aller Originalverleger, original published by Breitkopf & Härtel, Leipizig, n.d. [1863] Quartet No11 in F Minor, Op.95. New York: Dover Publications, INC, 1970.


 

 

 

BEETHOVEN, Ludwig van. Quator à cordes en fa mineur, Op95 “Quartetto serioso. Ludwig van Beethoven. Quator Hongrois. France: EMI, 1966.

27.6.25

Bertolt Brecht/Poemas 1913-1956/Paulo César de Souza/continua

BRECHT, Bertolt. 1898-1956. Poemas 1913-1956 / Bertolt Brecht (Eugen Bertholt Friedrich Brecht); seleção, tradução e comentário de Paulo César de Souza; texto de 2a e 3a capa Willi Bolle.  São Paulo: Editora 34, 2012.
Dos Poemas de Svendborg 

CANÇÕES INFANTIS
O ALFAIATE DE ULM (Ulm, 1592)

Bispo, eu sei voar
Disse ao bispo o alfaiate.
Olhe como eu faço, veja!
E com um par de coisas
Que bem pareciam asas
Subiu ao grande telhado da igreja.

O bispo não ligou.
Isso é um disparate
Voar é para os pássaros

O homem nunca voou
Disse o bispo ao alfaiate.

O alfaiate faleceu
Disseram ao bispo as pessoas.

Era tudo uma farsa.
Sua asa partiu
E ele se destruiu
Sobre o duro chão das praça.

Façam tocar os sinos
Aquilo foi invenção
Voar só para os pássaros

Disse o bispo aos meninos
Os homens nunca voarão. 

A AMEIXEIRA

No pomar tem uma ameixeira
Tão pequena, que ninguém faz fé.
Em volta dela há uma cerca
Que é pra ninguém botar o pé.

A pequenina não pode crescer
Pois crescer ela queria bem
Mas aí nada se pode fazer
Tão pouco é sol que ela tem.

Nessa ameixeira ninguém faz fé
Porque nunca deu uma ameixinha.
Mas que é uma ameixeira, isso é:
Pelas folhas a gente advinha!

PARÁBOLA DE BUDA
SOBRE A CASA INCENDIADA

Gautama, o Buda, ensinou
A doutrina da roda da cobiça, à qual estamos atados, e aconselhou
Livrar-se de toda cobiça e assim

Sem ambição penetrar no Nada, que ele denominou Nirvana.
Perguntaram-lhe então um dia seus alunos:
Como é esse Nada, mestre? Todos nós queremos
Livrar-nos de toda cobiça, como nos aconselhas, dize-nos porém
Se esse Nada, no qual então penetramos
É talvez como o ser-um com tudo criado
Ao deitar-se alguém na água, corpo leve, ao meio-dia Sem pensamentos quase, com preguiça deitado na água, caindo
No sono, mal sabendo então que puxa a coberta

Afundando rapidamente. Se esse Nada, portanto
É assim contente, um bom Nada, ou se esse teu Nada
É simplesmente um Nada, frio, vazio, sem sentido.

Longamente silenciou o Buda, e disse então displicente:
Nenhuma resposta para vossa pergunta.
Mas à noite, quando haviam partido
Sentado ainda sob o pé de fruta-pão, contou Buda aos outros
Aos que não haviam perguntado, a seguinte parábola:

Há pouco tempo vi uma casa. Queimava. A chama
Lambia o telhado. Aproximei-me e notei
Que ainda havia pessoas dentro. Cheguei à porta e gritei-lhes
Que o telhado estava em fogo, incitando-as assim
A sair rapidamente. Mas as pessoas
Pareciam não Ter pressa. Uma delas me perguntou

Enquanto o calor lhe chamuscava a sobrancelha
Se não soprava o vento, se não havia uma outra casa 

E coisas assim. Sem responder
Afastei-me novamente. Estes, pensei
Têm que queimar, até parar de fazer perguntas. Em verdade, amigos
Àquele que ainda não sente o chão bastante quente

Para trocá-lo por qualquer outro, em vez de lá ficar, a este
Nada tenho a dizer. Assim fez Gautama, o Buda.

Mas também nós, não mais ocupados com a arte de suportar
Antes ocupados com a arte de não suportar, e apresentando
Sugestões várias de natureza terrena, e aos homens ensinando
A desvencilhar-se dos tormentadores humanos, achamos que àqueles que
À vista dos iminentes esquadrões de bombardeiros do Capital gastam tempo a perguntar
Como pensamos em fazer isto, como imaginamos aquilo
E o que será de suas economias e de seus trajes de domingo após uma reviravolta
Nada temos a dizer. 

A INSCRIÇÃO INVENCÍVEL

No tempo da Guarda Mundial
Em uma cela da prisão italiana de San Carlo
Cheia de soldados aprisionados, de bêbados e ladrões

Um soldado socialista riscou na parede com um estilete:
VIVA LÊNIN!
Bem alto na cela meio escura, pouco visível, mas

Escrito com letras imensas.
Quando os guardas viram, enviaram um pintor com um balde de cal
Que com um pincel de cabo longo cobriu a inscrição ameaçadora.
Mas, como ele apenas acompanhou os traços com a cal

Via-se agora em letra brancas, no alto da cela:
VIVA LÊNIN!
Somente um segundo pintor cobriu tudo com pincel
largo
De modo que durante horas desapareceu, mas pela manhã
Quando a cal secou, destacou-se novamente a inscrição:

VIVA LÊNIN!
Então enviaram ao guardas um pedreiro com uma faca para eliminar a inscrição.
E ele raspou letra por letra, durante uma hora
E quando terminou, lá estava no alto da cela, incolor

Mas gravada fundo na parede, a inscrição invencível:
VIVA LÊNIN!
Agora derrubem a parede! disse o soldado.

beethoven/op 74/Quator Hongrois/continua/

BEETHOVEN, Ludwig van. Complete String Quartets and Grosse Fuge. Ludwig van Beethoven. From The Breitkopf & Härtel Complete Works Edition. Is an unabridged republication of Serie 6 (Volumes 1 and 2): Quartette für 2 Violinen, Bratsche und Violoncell of Ludwig van Beethovens Werke. Vollständige kritisch durchgesehene überall beerechtigte Ausgabe. Mit Genehmigung aller Originalverleger, original published by Breitkopf & Härtel, Leipizig, n.d. [1863] Quartet No10 in E-flat Major, Op.74. New York: Dover Publications, INC, 1970.


 


 

 
  

BEETHOVEN, Ludwig van. Quator à cordes en mi bémol majeur, Op74 “Les Harpes. Ludwig van Beethoven. Quator Hongrois. France: EMI, 1966.