18.6.25

Bertolt Brecht/Poemas 1913-1956/Paulo César de Souza/continua

BRECHT, Bertolt. 1898-1956. Poemas 1913-1956 / Bertolt Brecht (Eugen Bertholt Friedrich Brecht); seleção, tradução e comentário de Paulo César de Souza; texto de 2a e 3a capa Willi Bolle.  São Paulo: Editora 34, 2012.

1926-1933

REALIZAR ALGO DE ÚTIL

Quando li que queimavam as obras
Dos que procuravam escrever a verdade
Mas ao tagarela George, o de fala bonita, convidaram

Para abrir sua Academia, desejei mais vivamente
Que chegue enfim o tempo em que o povo solicite a um homem desses
Que num dos locais de construção dos subúrbios Empurre publicamente um carrinho de mão com cimento, para que
Ao menos uma vez um deles realize algo de útil, com o que
Poderia então retirar-se para sempre Para cobrir o papel de letras
Às custas do
Rico povo trabalhador.

QUANDO ME FIZERAM DEIXAR O PAÍS

Quando me fizeram deixar o país
Lia-se nos jornais do pintor
Que isso acontecia porque num poema
Eu havia zombado dos soldados da Primeira Guerra. 

Realmente, no penúltimo ano da guerra
Quando aquele regime, para adiar sua derrota
Já enviava os mutilados novamente para o fogo
Ao lado dos velhos e meninos de dezessete anos

Descrevi em um poema
Como um soldado morto era desenterrado e
Sob o júbilo de todos os enganadores do povo

Sanguessugas e opressores
Conduzido de volta as campo de batalha.
Agora que preparam uma nova Grande Guerra

Resolvidos a superar inclusive as barbaridades da última
Eles matam ou expulsam gente como eu
Que denuncia
Seus golpes.

OS ESPERANÇOSOS

Pelo que esperam?
Que os surdos se deixem convencer
E que os insaciáveis
Lhes devolvam algo?
Os lobos os alimentarão, em vez de devorá-los!

Por amizade
Os tigres convidarão
A lhes arrancarem os dentes!
É por isso que esperam!

[...]

EPITÁFIO 1919

A Rosa Vermelha desapareceu.
Para onde foi, é um mistério.
Porque ao lado dos pobres combateu

Os ricos a expulsaram de seu império.

[...]

 

CANÇÃO DO PINTOR HITLER

1

Hitler, o pintor de paredes
Disse: Caros amigos, deixem eu dar uma mão!

E com um balde de tinta fresca
Pintou como nova a casa alemã
Nova a casa alemã.

2

Hitler, o pintor de paredes
Disse: Fica pronta num instante!

E os buracos, as falhas e as fendas
Ele simplesmente tapou
A merda inteira tapou.

3

Ó Hitler pintor
Por que não tentou ser pedreiro?

Quando a chuva molha sua tinta
Toda a imundície vem abaixo
Sua casa de merda vem abaixo.

4

Hitler, o pintor de paredes
Nada estudou senão pintura
E quando lhe deixaram dar uma mão

Tudo o que fez foi um malogro
E a Alemanha inteira ele logrou.

AOS COMBATENTES
NOS CAMPOS DE CONCENTRAÇÃO

Vocês, dificilmente alcançáveis
Enterrados nos campos de concentração
Afastados de qualquer palavra humana
Submetidos a brutalidades
Espancados, mas
Não refutados!
Desaparecidos, mas
Não esquecidos!

Embora quase sem notícias de vocês, soubemos: são
Incorrigíveis.
Indoutrináveis, dizem, tão dedicados à causa proletária

Irremovíveis, na convicção de que na Alemanha ainda existem
Dois tipos de homens: exploradores e explorados
E que somente a luta de classes
Pode libertar da miséria as massas humanas das cidades e do campo.
Golpes de cacete ou enforcamentos, soubemos

Não foram capazes de fazê-los afirmar
Que agora dois e dois são cinco.

Portanto
Desaparecidos, mas
Não esquecidos
Espancados, mas
Não refutados
Juntamente com todos os lutadores incorrigíveis

Indoutrináveis persistindo na verdade
São, agora e sempre
Os verdadeiros guias da Alemanha.

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