20.6.25

Bertolt Brecht/Poemas 1913-1956/Paulo César de Souza/continua

BRECHT, Bertolt. 1898-1956. Poemas 1913-1956 / Bertolt Brecht (Eugen Bertholt Friedrich Brecht); seleção, tradução e comentário de Paulo César de Souza; texto de 2a e 3a capa Willi Bolle.  São Paulo: Editora 34, 2012.

1933-1938

A EMIGRAÇÃO DOS POETAS

Homero não tinha morada
E Dante teve que deixar a sua.
Li-Po e Tu-Fu andaram por guerras civis
Que tragaram 30 milhões de pessoas
Eurípides foi ameaçado com processos
E Shakespeare, moribundo, foi impedido de falar.

Não apenas a Musa, também a polícia
Visitou François Villon.
Conhecido como 
o Amado
 Lucrécio foi para o exílio
Também Heine, e assim também
Brecht, que buscou refúgio
Sob o teto de palha dinamarquês.

O QUE CORROMPE

Nos primeiros meses do domínio nacional-socialista
Um trabalhador de uma pequena localidade na fronteira tcheca
Foi condenado à prisão por distribuir panfletos comunistas
Como um de seus cinco filhos havia já morrido de fome

Não agradava ao juiz enviá-lo para a cadeia por muito tempo.
Perguntou-lhe então se ele não estava talvez

Apenas corrompido pela propaganda comunista.
Não sei o que o senhor que dizer, disse ele, mas meu filho
Foi corrompido pela fome.

O VIZINHO

Eu sou o vizinho. Eu o denunciei.
Não queremos ter aqui
Nenhum agitador.

Quando penduramos a bandeira com a suástica
Ele não pendurou nenhuma bandeira.
Quando lhe falamos sobre isso
Ele nos perguntou se no cômodo

Onde vivemos com quatro crianças
Ainda há lugar para um mastro de bandeira.
Quando dissemos que acreditamos novamente no futuro

Ele riu.

Nós não gostamos quando o espancaram
Na escada. Rasgam-lhe o avental.
Não era necessário. Temos poucos aventais.

Mas agora ele se foi, há sossego no edifício
Já temos preocupações demais
É preciso ao menos haver sossego.

Notamos que algumas pessoas
Viram o rosto quando cruzam conosco. Mas

Os que o levaram dizem
Que agimos corretamente.

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