1.5.25

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“Como se fosse de um mágico ou de um diretor de teatro, o primeiro apito da primeira locomotiva deu o sinal de despertar, o sinal de decolagem para todas as coisas.” Nadar, Quand Jétais Photographe, Paris, p. 281.

[C 3a, 4]

<fase média>

Significativa é a gênese de um dos grandes documentos sobre Paris, de Maxime Du Camp: Paris, ses Organes, ses Fonctions et sa Vie dans la Seconde Moitié du XIXe Siecle (6 volumes, Paris, 1893-1896).10 Sobre essa obra um catálogo de antiquário diz o seguinte: “E de vivo interesse por sua documentação tão exata quanto minuciosa. Du Camp, com efeito, não hesitou em exercer os ofícios mais diversos — fazendo-se condutor de ônibus, varredor, operário dos esgotos - para providenciar os materiais para seu livro. Essa obstinação lhe deu o apelido de prefeito do Sena in partibus e certamente contou para sua elevação à dignidade de senador.” A origem do livro é descrita por Paul Bourget em seu “Discurso acadêmico de 13 de junho de 1895. Sucessão de Maxime Du Camp” (Anthologie de lAcadémie Française, Paris, 1921, vol II, pp. 191-193). Em 1862, conforme narra Bourget, surgiram em Du Camp os sintomas de uma doença nos olhos; após procurar o oculista Secrétan, este teria lhe prescrito óculos para presbiopia. Du Camp relata: “A idade me atingia. Não lhe fiz uma acolhida amável. Mas me submeti. Encomendei um lornhão e um par de óculos.” Agora Bourget: “O óptico não tinha as lentes solicitadas. Era-lhe preciso mais ou menos meia hora para prepará-las. O Sr. Maxime Du Camp saiu para matar essa meia hora, flanando ao acaso. Encontrou-se na Pont-Neuf... O escritor estava num desses momentos em que o homem que deixa de ser jovem pensa na vida com uma gravidade resignada, que lhe faz ver por todo lado a imagem de sua própria melancolia. A pequena decadência fisiológica de que a visita ao oculista acabava de convencê-lo lhe fez lembrar o que se esquece tão depressa: essa lei da inevitável destruição que governa tudo o que é humano... De repente, ele  o viajante do Oriente, o peregrino das mudas solidões, onde a areia é feita do pó dos mortos —, se pôs a sonhar que um dia também esta cidade, cuja enorme respiração ele escutava, também morreria, como morreram tantas capitais de tantos impérios. Veio-lhe a idéia do interesse prodigioso que teria hoje para nós um quadro exato e completo de Atenas no tempo de Péricles, de Cartago no tempo dos Barca, de Alexandria no tempo dos Ptolomeus, de Roma no tempo dos Césares... Graças a uma dessas intuições fulgurantes, em que um magnífico tema de trabalho surge em nosso espírito, ele percebeu claramente a possibilidade de escrever sobre Paris este livro que os historiadores da antigüidade não escreveram sobre suas cidades. Ele olhou novamente o espetáculo da ponte, do Sena, do cais... A obra de sua idade madura acabava de lhe aparecer.” Esta inspiração antiga da obra moderna sobre aspectos técnico-administrativos de Paris é muito significativa. De resto, a comparar com Léon Daudet, Paris Vécu,o capítulo sobre o Sacré-Coeur, sobre o declínio de Paris.11

[C, 4]

10 A primeira edição é de 1869-1875. (w.b.)

11 Léon Daudet, Paris Vécu: cf. C 9a, 1 . (E/M)

BENJAMIN, Walter (1892-1940). Passagens / Das Passagen-WerkWalter Benjamin; edição alemã de Rolf Tiedemann; organização da edição brasileira Willi Bolle; colaboração na organização da edição brasileira Olgária Chain Féres Matos; tradução do alemão Irene Aron; tradução do francês Cleonice Paes Barreto Mourão; revisão técnica Patrícia de Freitas Camargo; pósfácios Willie Bolle e Olgária Chain Féres Matos; introdução à edição alemã (1982) Rolf Tiedemann. Belo Horizonte: Editora UFMG; São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2009.

 

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