27.5.25

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F

[Construção em Ferro]

Cada época sonha a seguinte 

Michelet, Avenir! Avenir!(Europe , 73, p. 6)

Dedução dialética da construção em ferro; ela se diferencia da arquitetura grega em pedra (teto de vigas) e da arquitetura medieval (teto em arco). “Uma outra arte, na qual o tom é dado por um outro princípio estático, muito mais magnífico do que os dois primeiros, vai nascer e se desenvolver... Um novo e inusitado sistema de tetos, que naturalmente acarretará de imediato um novo reino de formas artísticas, só pode se manifestar quando um material, se não ignorado are agora, ao menos negligenciado como elemento principal para tal emprego, começa a ter aceitação... Ora, tal material é o ferro, que o nosso século já começou a u tilizar nesse sentido. Com a crescente comprovação e o conhecimento de suas qualidades estáticas na arquitetura do futuro, o ferro está destinado a servir de base ao sistema de tetos e, do ponto de vista estático, a destacar este último em relação aos sistemas helénico e medieval tanto quanto o sistema de arcos deu destaque à Idade Média em relação ao monolítico sistema de vigas de pedra do mundo antigo... Se o princípio estático de forças é tomado à construção em arcos e transformado num sistema totalmente novo e inédito, por outro lado, em relação às formas artísticas do novo sistema, terá de ser retomado o princípio formal à maneira grega.” Zum huridertjãhrigen Geburtstag Karl Böttichers, Berlim, 1906, pp. 42 e 44-46. (Os princípios da arquitetura helénica e germânica com referência à sua transposição para a arquitetura de nossos dias.)

[F 1, 1]

Vidro que surge antes do seu tempo, ferro prematuro. O material mais frágil e o mais forte foram quebrados, por assim dizer, deflorados nas passagens. Em meados do século passado, ainda não se sabia como se devia construir com vidro e ferro. Por isso o dia que se infiltra do alto através das vidraças por entre suportes de ferro é tão sujo e nublado

[F 1, 2]

[...]

As duas grandes conquistas da técnica: o gás1 e o ferro fundido andam juntos. “Sem contar a quantidade inumerável de luzes mantidas pelos comerciantes, essas galerias são iluminadas à noite por trinta e quatro bicos de gás hidrogênio sustentados por espirais de ferro fundido fixados sobre as pilastras. Provavelmente, trata-se da Galerie de 1’Opéra. J.A.Dulaure, Histoire de Paris ... Depuis 1821 Jusquà Nos Jours, vol. II, Paris, 1835, p. 29.

[F 1, 4]

[...]

“A complicada construção em ferro e cobre ... do mercado de cereais, Halle au Blé, em 1811, foi uma obra do arquiteto Bellangé e do engenheiro Brunet. Pelo que se sabe, é a primeira vez que as funções do arquiteto e do engenheiro não são mais reunidas na mesma pessoa ... Hittorf, o construtor da Gare du Nord, deve a Bellangé seu primeiro contato com a construção em ferro. — De fato, trata-se mais de um emprego do ferro do que uma construção em ferro. Ainda se transfere simplesmente ao ferro a técnica da construção em madeira.” Sigfried Giedion, Bauen in Frankreich, p. 20.

[F 2, 6]

1 "Vidro e ferro fundido" ( G<l>as und Gußeisen), como quer R.T., ou "gás e ferro fundido" (Gas und  Gußeisen), como propõem E/M? Optamos peia segunda leitura, que, além de não emendar o texto  original, é confirmada pelo contexto. (w.b.)

BENJAMIN, Walter (1892-1940). Passagens / Das Passagen-WerkWalter Benjamin; edição alemã de Rolf Tiedemann; organização da edição brasileira Willi Bolle; colaboração na organização da edição brasileira Olgária Chain Féres Matos; tradução do alemão Irene Aron; tradução do francês Cleonice Paes Barreto Mourão; revisão técnica Patrícia de Freitas Camargo; pósfácios Willie Bolle e Olgária Chain Féres Matos; introdução à edição alemã (1982) Rolf Tiedemann. Belo Horizonte: Editora UFMG; São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2009.

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