22.5.25

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<fase média>
“Luís Napoleão..., este representante do lumpemproletariado e de tudo que é embuste e fraude atrai lentamente a violência para si... Com divertido elã, ressurge Daumier. Ele cria o personagem fulgurante de ‘Ratapoil’, um atrevido cafetão e charlatão. E este ladrãozinho andrajoso que traz sempre escondido às costas um porrete assassino torna-se para ele a encarnação da decadente idéia bonapartista.” Fritz Th. Schulte, “Honoré Daumier”, Die neue Zeit, Stuttgart, XXXII, n° 1, p. 835.
[E 7, 1]
[...]

“Milhares de famílias, que trabalham no centro, dormem à noite na periferia da capital. Esse movimento se parece com a maré; vê-se, pela manha, o povo descer até Paris, e, à tarde, a mesma onda popular voltar. E uma triste imagem... Acrescentarei ... que é a primeira vez que a humanidade assiste a um espetáculo tão desolador para o povo.” A Granveau, LOuvrier Devant la Société, Paris, 1868, p. 63 (“Les logements à Paris”).

[E 7, 5]

[...]

1833: “O projeto de circundar Paris com um cinturão de fortificações ... apaixonava neste momento os espíritos. Pensava-se que essas fortificações seriam inúteis para a defesa interior e ameaçadoras apenas à população. A oposição era universal... Disposições foram tomadas para uma imensa manifestação popular em 27 de julho. Informado desses preparativos..., o governo abandonou seu projeto... Entretanto, no dia da revista, inúmeros gritos: Abaixo as fortificações! — Abaixo as bastilhas!’ ressoaram antes do desfile.” G. Pinet, Histoire de 1École Polytechnique, Paris, 1887, pp. 214-215. Os ministros procuravam vingar-se com o caso da “conjuração da pólvora”.11 

[E 7 a, 2]

[...]

“Uma peça de um ato escrita rapidamente por Engels, encenada em setembro de 1847 na Associação Alemã de Trabalhadores de Bruxelas, já apresentava uma luta de barricadas num pequeno Estado alemão, que terminou com a abdicação do príncipe e a proclamação da república.” Gustav Mayer, Friedrich Engels, vol. I, Friedrich Engels in seiner Frühzeit, 2 a ed., Berlim, 1933, p. 269.

[E 9a, 6]

Na repressão da insurreição de Junho utilizou-se pela primeira vez a artilharia na batalha de ruas.

[E 9a, 7]

A posição de Haussmann relativa à população de Paris compara-se à posição de Guizot em relação ao proletariado. Guizot designava o proletariado como a “população exterior”. (Cf. Georg Plechanow, “Üher die Anfánge der Lehre vom Klassenkampf ”, Die NeueZeit, Stuttgart, 1903, XXI, n° 1, p. 285.)

[E 9a, 8]

[...]

<fase tardia>

[...]

“Contra Paris. Projeto obstinado de esvaziar Paris, de dispersar sua população de operários. Sob pretexto de humanidade, propõe-se hipocritamente repartir nas 38.000 comunas da França 75.000 operários desempregados. 1849.” Blanqui, Critique Sociale, vol. II, Fragments et Notes, Paris, 1885, p. 313.

[E 11, 4]

“Um Sr. D’Havrincourt veio expor a teoria da estratégia da guerra civil. Não se deve nunca deixar as tropas permanecerem nos centros de revolta. Elas se pervertem em contato com os facciosos e se recusam a metralhar na hora das repressões... O verdadeiro sistema consiste na construção de cidadelas dominando as cidades suspeitas e sempre prontas a fulminá-las. Mantêm-se ali os soldados na guarnição, ao abrigo do contágio popular.” Auguste Blanqui, Critique Sociale, vol. II, Fragments et Notes, Paris, 1885, pp. 232-233 (“Saint-Etienne, 1850”).

[E 11, 5]

“A haussmannização de Paris e das províncias é um dos grandes flagelos do Segundo Império. Nunca se saberá a quantos milhares de infelizes essas construções insensatas custaram a vida, pela privação do necessário. A espoliação de tantos milhões é uma das causas principais da desgraça atual... ‘Quando a construção avança, tudo avança’, diz um adágio popular, que se tornou um axioma econômico. Nessa lógica, cem pirâmides de Quéops, elevando- se juntas até as nuvens, atestariam uma superabundância de prosperidade. Cálculo singular. Sim, num estado bem ordenado, onde a economia não estrangula o câmbio, a construção seria o termômetro verdadeiro da fortuna pública. Porque então ela revela um crescimento da população e um excedente de trabalho que ... constrói o futuro. Fora dessas condições, a colher de pedreiro só testemunha as fantasias assassinas do absolutismo. Quando este esquece um instante seu furor de guerra, é preso da fúria das construções... Todas as bocas venais celebraram em coro os grandes trabalhos que renovam a face de Paris. Nada mais triste que essa imensa agitação de pedras pela mão do despotismo, fora da espontaneidade social. Não há sintoma mais lúgubre da decadência. À medida que Roma agonizava, seus monumentos surgiam mais numerosos e gigantescos. Construía seu sepulcro e se fazia bela para morrer. Mas o mundo moderno, este não quer morrer, e a estupidez humana atinge seu ápice. Estamos cansados de grandezas homicidas. Os cálculos que perturbaram a cidade, numa dupla finalidade de compressão e de vaidade, fracassarão diante do futuro, como fracassaram no presente.” A. Blanqui, Critique Sociale, vol. I, Capital et Travail, Paris, 1885, pp. 109-111 (Conclusão de “Le Luxe”). A Nota preliminar de Capital et Travail é de 26 de maio de 1869.

[E 11a, 1]

[...]

Die neue Weltbühne, XXXIV, 5, de 3 de fevereiro de 1938 — num ensaio de H. Budzislawski, Krösus baut , pp. 120-130 — cita Engels, Zur Wohnungsfrage’’ (Sobre a questão da moradia), de 1872: “Na realidade, a burguesia tem apenas um método para solucionar a questão da moradia à sua maneira — isto e, solucioná-la de tal modo que a solução reacende a questão sempre de novo. Este método denomina-se ‘Haussmann’. Por ‘Haussmann’ entendo aqui não apenas a maneira especificamente bonapartista do Haussmann parisiense de abrir ruas longas, retas e largas no meio de bairros operários de ruas estreitas e cercá-los de grandes edifícios de luxo em ambos os lados, havendo com isso a intenção — além da utilidade estratégica de dificultar a construção de barricadas — de propiciar a constituição de um proletariado de construção especificamente bonapartista, dependente do governo, e a transformação da cidade em pura cidade de luxo. Por ‘Haussmann entendo a prática generalizada de abrir brechas nos bairros operários, principalmente naqueles situados no centro de nossas grandes cidades... O resultado e sempre o mesmo: as ruelas mais escandalosas ... desaparecem sob a máxima autoglorificação da burguesia..., mas ressurgem logo depois em outro lugar, e muitas vezes na imediata vizinhança.’’ — Coloca-se aqui também a famosa questão de concurso: por que o índice de mortalidade nas novas moradias operárias de Londres (por volta de 1890?) é tão maior do que nos slums? — Porque as pessoas se alimentam mal, a fim de conseguir pagar os altos aluguéis. Péladan observa que o século XIX teria forçado as pessoas a assegurar uma moradia, mesmo que fosse às custas da alimentação e do vestuário.

[E 12, 1] 

[...] 

Moradores provisórios (enquanto a moradia ainda apresentava umidade), sob Haussmann: Os industriais nômades dos novos pavimentos térreos parisienses se dividem em três categorias principais: os fotógrafos populares, os comerciantes de bugingangas, mantendo bazares e boutiques de treze centavos, os exibidores de curiosidades e particularmente de mulheres-gigantes. Até o presente, esses interessantes personagens contam entre aqueles que mais aproveitaram a transformação de Paris.” Victor Fournel, Paris Nouveau et Paris Futur, Paris, 1868, pp. 129-130 (“Promenade pittoresque à travers le nouveau Paris”).

[E 13, 3]

11 Depois de ter cedido, em julho de 1833, aos protestos públicos e abandonado o projeto do cinturão de fortificações, o governo vingou-se, decretando a prisão de um grupo de pessoas (inclusive quatro estudantes da École Polytechnique) suspeitas de fabricação ilegal de pólvora e armas. O grupo foi absolvido em dezembro. G. Pinet, Histoire de 1École Polytechnique, Paris, Baudry, 1887, pp. 214-219. (E/M)

BENJAMIN, Walter (1892-1940). Passagens / Das Passagen-WerkWalter Benjamin; edição alemã de Rolf Tiedemann; organização da edição brasileira Willi Bolle; colaboração na organização da edição brasileira Olgária Chain Féres Matos; tradução do alemão Irene Aron; tradução do francês Cleonice Paes Barreto Mourão; revisão técnica Patrícia de Freitas Camargo; pósfácios Willie Bolle e Olgária Chain Féres Matos; introdução à edição alemã (1982) Rolf Tiedemann. Belo Horizonte: Editora UFMG; São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2009.

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