3.5.25

continua/benjamin/passagens/Das Passagen-Werk/continua

Curiosa a seguinte frase da obra-prima “Paris souterrain”, de Nadar, em Quand Jétais Photographe, Paris, 1900, p. 124: “Na história dos esgotos, escrita com a pena genial do poeta e filósofo, após a descrição que ele soube tornar mais comovente que um drama, Hugo conta que na China não há um só camponês que, voltando da venda de seus legumes na cidade, não traga a pesada carga de dois baldes cheios desses preciosos fertilizantes.” 
[C 4a, 1]
[...]
Em 1899, durante os trabalhos do metrô, foram encontrados na Rue Saint-Antoine os alicerces de uma torre da Bastilha. Cabinet des Estampes.
[C 4a, 4]
{como no metrô de Atenas onde, em cada estação, tem exposto as coisas antigas encontradas lá durante a obra
[...]
Pequena premonição do metrô na descrição das casas-modelo do futuro: “Os subsolos, muito espaçosos e bem iluminados, se intercomunicam todos. Formam longas galerias que seguem o trajeto das ruas e onde se construiu uma estrada de ferro subterrânea. Esta ferrovia não é destinada aos passageiros, mas apenas às mercadorias volumosas, ao vinho, à madeira, ao carvão etc., que ela transporta até o interior das casas... Estas ferrovias subterrâneas adquirem uma importância cada vez maior.’ Tony Moilin, Paris en lAn 2000, Paris, 1869, pp. 14-15 (“Maisons-modèles”).
[C 5a, 3]
[...]
“Edgar Poe fez passar pelas ruas das capitais o personagem que designou como o Homem da Multidão. O gravurista inquieto e pesquisador é o Homem das Pedras... Eis ... um ... artista que não estudou e trabalhou, como Piranesi, diante dos restos da vida extinta, e cuja obra dá uma sensação de nostalgia persistente... É Charles Meryon. Sua obra de gravurista é um dos poemas mais profundos que já foram escritos sobre uma cidade, e a originalidade singular dessas páginas penetrantes é que — embora tenham sido traçadas diretamente segundo aspectos vivos — apresentam uma aparência da vida passada, que está morta ou que vai morrer... Este sentimento existe independentemente das reproduções mais escrupulosas e mais reais dos temas que detiveram a escolha do artista. Havia nele algo de visionário, e ele certamente adivinhava que essas formas tão rígidas eram efêmeras, que essas curiosas belezas pereceríam como tudo o mais. Ele escutava a linguagem que falam as ruas e vielas incessantemente atravancadas, destruídas e refeitas, desde os primeiros dias da cidade, e por isso sua poesia evocadora se encontra com a Idade Média através da cidade do século XIX; através da visão das aparências imediatas ele identifica a melancolia de sempre.
 
A velha Paris não existe mais. A forma de uma cidade
Muda mais depressa, ai! que o coração de um mortal.14
 
Estes dois versos de Baudelaire poderiam servir como epígrafe para a obra inteira de Meryon.” Gustave Geffroy, Charles Meryon, Paris, 1926, pp. 1-3.
[C 7a, 1]
“Não é necessário imaginar a antiga porta triumphalis já como porta em arco. Ao contrário, como servia apenas a um ato simbólico, ela deve originalmente ter sido construída com os meios mais simples, ou seja: dois pilares com uma viga horizontal.” Ferdinand Noack, Triumph und Triumphbogen (Conferências da Biblioteca Warburg, vol. V), Leipzig, 1928,
[C 7a, 2]
{como os arcos decorativos, e não funcionais que existem até hoje, séculos depois da invenção funcional de Roma.
Como no Templo de Hefesto (Ναός Ηφαίστου) que, depois da dominação Romana, virou uma igreja (?!) e, para dar um aspecto romano, construiram arcos não funcionais lá dentro (????!!!!).









Não é possível ver pelas fotos [sic] que tirei, pelo sol, mas é bastante bizarro. Mas dá é possível ver a elaboradíssima estrutura da construção.} 
[...]
<fase tardia>
[...]
“Esta inteligência de Blanqui ... esta tática do silêncio, esta política de catacumbas, deviam às vezes fazer hesitar Barbès, como se estivesse diante ... de escadas subitamente escancaradas e mergulhando nos porões de uma casa mal conhecida.” Gustave Geffroy, LEnfermé, Paris, 1926, vol. I, p. 72.
[C 8, 6]
Messac cita (em Le “Detective Novel” et lInfluence de la Pensée Scientifique, Paris, 1929, p. 419) um trecho de Vidocq, Mémoires, capítulo XLV: “Paris é um ponto sobre o globo, mas esse ponto é uma cloaca; nesse ponto deságuam todos os esgotos.”
[C 8a, 1]
[...]
Baudelaire e os cemitérios: “Atrás das altas paredes das casas, pelos lados de Montmartre, de Ménilmontant, de Montparnasse, ele imagina, ao cair da noite, os cemitérios urbanos, estas três outras cidades dentro da grande - cidades aparentemente menores que a cidade dos vivos, porque esta parece contê-las, mas em realidade tão mais vastas, tão mais populosas, com seus compartimentos apertados, superpostos em profundidade. E, nos mesmos lugares por onde hoje a multidão circula — o Square des Innocents, por exemplo — , ele evoca os antigos ossários soterrados ou desaparecidos, submersos nas ondas do tempo com todos os seus mortos, como os navios naufragados com sua tripulação.” François Porché, La Vie Douloureuse de Charles Baudelaire (da série Le Roman des Grandes Existences, vol 6), Paris, 1926, pp. 186-187.
[C 9, 2]
[...]
Léon Daudet sobre a vista do Sacré-Coeur sobre Paris. “Olha-se do alto esta quantidade de palácios, de monumentos, de casas, de casebres que parecem reunidos à espera de um cataclismo, ou de vários cataclismos, sejam meteorológicos, sejam sociais... (...)” Léon Daudet, Paris Vécu, vol. I: Rive Droite, Paris, 1930, pp. 220-221.15
[C 9a, 1]
[...]
D
[O Tédio, Eterno Retorno]
[...]
Como as forças cósmicas têm apenas um efeito narcotizante sobre o homem vazio e frágil, é o que revela a relação dele com uma das manifestações superiores e mais suaves dessas forças: o tempo atmosférico. E muito significativo que justamente esta influência, a mais íntima e mais misteriosa exercida pelo tempo sobre os homens, veio a se tornar o tema de suas conversas mais vazias. Nada entedia mais o homem comum do que o cosmos. (...)
[D 1, 3]
Baudelaire como poeta do Spleen de Paris. “Uma das características essenciais dessa poesia, na verdade, e o tedio na bruma, tédio e nevoeiro misturados (nevoeiro das cidades); numa palavra, é o spleem.” François Porché, La Vie Douloureuse de Charles Baudelaire, Paris, 1926 p. 184.
[D 1, 4 ]
[...]
“Ele explica que a Rue Grange-Batelière é particularmente poeirenta, que nos sujamos terrivelmente na Rue Réaumur.” Louis Aragon, Le Paysan de Paris, Paris, 1926, p. 88. 
[D 1a, 2]
A pelúcia como depósito de poeira. Mistério da poeira que brinca ao sol. A poeira e a “sala de visitas”. “Logo após 1840, surgem os móveis franceses totalmente estofados, e com eles o estilo de tapeçarias atinge seu domínio absoluto.” Max von Boehn, Die Mode im XIX Jahrhundert, vol. II, Munique, 1907, p. 131. Outras formas de levantar a poeira: a cauda. “Recentemente retornou também a verdadeira cauda; agora, porém, é erguida e segurada, durante o andar, com o auxílio de um gancho e um cordão, para evitar a inconveniência de varrer a rua.” Friedrich Theodor Vischer, Mode und Zynismus, Stuttgart, 1879, p. 12. ■ Poeira e perspectiva sufocada ■
[D la, 3]
A Galeria do Termômetro e a Galeria do Barômetro na Passage de l’Opéra.
[D 1a, 4]
[...]
“Só aqui”, disse Chirico, “é possível pintar. As ruas possuem tantos tons de cinza...”
[D la, 7]
[...]
O tempo de chuva na cidade, com toda sua astuta sedução, capaz de nos fazer voltar em sonhos aos primeiros tempos da infância, só é compreensível à criança de uma cidade grande. A chuva faz tudo parecer mais oculto, torna os dias não só cinzentos, mas também uniformes. De manhã à noite pode-se fazer a mesma coisa — jogar xadrez, ler, discutir enquanto o sol, de maneira bem diferente, matiza as horas e não faz bem ao sonhador. Por isso, este precisa evitar com astúcia os dias radiantes e, principalmente, levantar-se muito cedo, como os grandes ociosos, os passeadores do porto e os vagabundos: ele precisa estar a postos mais cedo que o sol. Ferdinand Hardekopf, o único verdadeiro decadente que a Alemanha produziu, indicou ao sonhador - na “Ode vom seligen Morgen” (Ode da manhã bem-aventurada), com a qual presenteou Emmy Hennings10 há muitos anos — as melhores medidas de precaução para dias ensolarados.
[D 1a. 9]
“dar a esta poeira um aspecto de consistência, como se estivesse regada com sangue”. Louis Veuillot, Les Odeurs de Paris, Paris, 1914, p. 12.
[D la, 10]
 
14 Estes versos fazem parte do poema "0 Cisne" ("Le Cygne") das Flores do Mal. (E/M)
15 L.Daudet, Paris Vécu, Paris, Gallimard, 1969, pp. 127-128. (J.L.) 
 
10 F.Hardekopf, Gesammelte Dichtungen, ed org por Emmy Moor-Wittenbach, Zurique, 1963  (Coleção Horizont), pp. 50-51. (R.T.) - Cf. B°, 5. Emmy Hennings animou o Cabaré Voltaire dos  dadaístas, em Zurique. (J.L.)

BENJAMIN, Walter (1892-1940). Passagens / Das Passagen-WerkWalter Benjamin; edição alemã de Rolf Tiedemann; organização da edição brasileira Willi Bolle; colaboração na organização da edição brasileira Olgária Chain Féres Matos; tradução do alemão Irene Aron; tradução do francês Cleonice Paes Barreto Mourão; revisão técnica Patrícia de Freitas Camargo; pósfácios Willie Bolle e Olgária Chain Féres Matos; introdução à edição alemã (1982) Rolf Tiedemann. Belo Horizonte: Editora UFMG; São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2009.

Nenhum comentário: