24.5.25

continua/Chantal Montellier/Odile e os crocodilos/Odile et les crocodiles/sai

MONTELLIER, Chantal (1947-). Odile e os crocodilos / Odile et les crocodiles / Chantal Montellier; prefácio Chantal Montellier; entrevista com Chantal Montellier realizado por Jerry Frissen, editada por Christophe Quillien, publicada em Métal Hurland Hors-série: Ah!Nana, em outubro de 2023/Les Humanoïdes Associés; tradução Fernando Paz; edição Ferréz e Thiago Ferreira; 1984. São Paulo: Comix Zone!, 2024.
Pedaço de entrevista com Chantal Montellier realizado por Jerry Frissen, editada por Christophe Quillien, publicada em Métal Hurland Hors-série: Ah!Nana, em outubro de 2023:

Nova Iorque é desconcertante (...), é hiperpotente. (...) Fomos acolhidos por gente que vivia no Village, e eu tinha a impressão de que elas moravam numa prisão! Para entrar na casa, tínhamos que atravessar uma primeira porta com vigilância eletrônica, depois digitar um código, havia barras nas janelas (...)!

[...]

Um dia de janeiro de 1980, fui convidada por Bernard Pivot para participar do Apostrophes (...). Antes do dia da gravação do programa, dedicado a questão da chantagem nuclear, eles me enviaram livros dos outros convidados...

Quem eram?

Um certo Bertrand Goldschmidt, responsável pela política nuclear de Giscard dEstaing (...). Também foi convidada a dupla (...), autores de best-sellers (...). Bernard Pivot também tinha convidado um alto funcionário público, um jovem subprefeito (católico praticante?) bem conservador-chique, pai de uma meia dúzia de filhos, com menos de quarenta anos. (...)

É difícil imaginar você no meio desses diferentes convidados...

Eu me sinto um pouco deslocada, realmente. Quando Bernard Pivot se dirige a mim, ele me pergunta o que eu penso desses diferentes livros. Eu respondo que, em matéria de chantagem nuclear, tenho menos medo da Líbia de Kadhafi do que da América de Carter... A coisa começa mal! Eu faço o público rir, zombando de certos convidados especiais... Em seguida, Bernard Pivot tende a me ignorar (...).

(...) três dias depois, alguém bate na minha porta, (...) Na época eu morava num apartamento haussmaniano, (...) (mas não muito caro), (...). Normalmente, é a zeladora quem me traz a correspondência. Eu abro a porta e vejo um cavalheiro alto (...), que me estende a correspondência. Espero ele me dizer alguma coisa, mas ele não diz nada. Sorri. Está bem-vestido, cabelos penteados, óculos; ele me mede dos pés à cabeça, dá uma espiada no interior do apartamento, com um sorrisinho de lado, depois dá meia-volta e desaparece. Aquilo me deixou perturbada, eu estava quase tremendo, e imediatamente pensei que devia se tratar de um policial. Um pouco depois, desço à portaria para tirar a dúvida, toco na casa da zeladora e sinto uma mudança na atitude dela. Antes, eu era madame Motellier, e ela me tratava com respeito. Agora, eu era Chantal, e ela me tratava sem deferência. Quando perguntei quem era o senhor que tinha me trazido a correspondência, ela respondeu: Ah, Chantal, você sabe, quando a gente faz uma besteira, tem que pagar por ela! Enfim, eu tinha me tornado uma delinquente aos olhos dela. Depois, começou o festival... As livrarias que tinham me convidado (...) cancelaram os convites, começaram a correr rumores sobre mim, que eu teria sido casada com um africano, que eu teria dois filhos e abandonado, que eu seria uma prostituta... um verdadeiro linchamento! Eu realmente entendi em que sociedade eu estava vivendo. Quarenta anos depois, ainda fico muito surpresa.

[...]

(...) Atravessei um período de grandes dificuldades. Dei oficinas para detentos durante muitos anos, ou para outros grupos em dificuldade, principalmente gente de um bairro popular de Nancy. Eu vivia viajando de trem, mas foi um período durante o qual publiquei livros que estão entre os que mais reivindico. Eles correspondem, ao mesmo tempo, a um longo trabalho de escrita, e a um comprometimento social contra a barbárie que nos rodeia, um pouco por toda parte.

Nenhum comentário: