• tacet: 04/2006

    30.4.06

    Phil Minton

    Um tipo de evento raríssimo de acontecer no Brasil: uma performance de Phil Minton — um dos mais inovadores no uso da voz. O anti-cantor tem um trajetória de muitos anos, com uma grande quantidade de projetos, parcerias incríveis (não vou citar nenhuma, porque a lista seria interminável), e uma discografia gigantesca.
    Ele fará uma de suas improvisações viscerais utilizando técnicas impressionantes que geram uma enorme variedade de sons e ruídos.

    Imperdível e grátis.

    Quarta, dia 3, às 20h, no Centro Universitário MariAntônia. Como se não bastasse, é pertinho da minha casa.

    Um dos discos de Minton (Mouthfull of Ecstasy) tem como base o Finnegans Wake de James Joyce, onde o “cantor” explora a riquíssima musicalidade do texto com os seus recursos vocais. Transcrevo abaixo o final (?) do livro — um dos fragmentos abordados no álbum — onde Anna Lívia Plurabelle (a mulher que é todas as mulheres ao mesmo tempo) volta a seu pai, ou onde o grande rio/romance volta para o mar, ou onde o final do anti-romance volta ao seu início, mas tudo isso na versão brasileira (Finnicius Revém) de Donaldo Schüler:


    Estou de partida. Que amargo fim! Sorrateiramente partirei antes que acordem. Não vão me ver. Nem saber. Nem recordar-me. E é velha e velha é triste e velha é triste e exausta volto a ti, velhegélido pai, velhegélito indômito pai, meu velhegélido indômito, patético pai, até a mara vista da mera forma dele, as miolhas e miolhas dele, monotanando, me ressalgam, me ressacam e me arremesso, meu início, em teus braços. Eisque seelevam! Salvam-me desses tríveis tridentes! Dos más uno dos homomentos mais. Só. Avelaval. Minhas folhas derivam de mim. Todas. Só esta me resta. Paro e porto comigo. Pra remembrança de. Lff! Suave esta manhã, tanto, a nossa. Sim. Leva-me contigo, palpito, como quando quedos percorremos a feira dos brinquedos! Se eu o visse baixar sobre mim sob suas alvestendidas asas como que vindo de Arkângelos, penso que pensa findaria a seus pés, húmil, dúbil, débil, laudante. Sim, tá em tempo. Cá estamos. Início. Passamos pastagens, basculhem o bosque a. Vvôo! Gaivvota. Gaivvootas. Apelos do pai. Já vvou, pai. Eis o fim. Nós então. Finn, revêm! Toma. Serenamente, rememora-me! Té que thausentes. Lps. As chaves a. Cá tens! A via a lenta a leve a leta a long a

    24.4.06

    As Formas do Violoncelo

    Instrumento de formas sugestivas






    Foto 1 — Le Violon d'Ingres, 1924, de Man Ray (1890-1976): Expoente do Dada de Nova York, pintor, desenhista, fotógrafo, criador de objetos, inventor do rayograph (contato — fotos sem câmera) e da aerografia aplicada à pintura, escritor e brilhante narrador. Foi também cineasta (de filmes geniais), e inventou o “cinema sem câmera”.
    (um dos elogios mais descabidos que já recebi foi quando um diretor de cinema das antigas (das antigas mesmo é falar “das antigas”) comparou um vídeo meu com Man Ray)

    Foto 2 — Charlotte Moorman (1933-1991): A “Joana D’Arc da música nova” (Edgar Varèse). Começou como concertista tradicional de violoncelo para depois se tornar intérprete de obras de compositores contemporâneos, como Karlheinz Stockhausen. Mas foram os integrantes do movimento Fluxus que realmente interessaram a moça, que se tornou a fiel escudeira de Nam June Paik. Muitas obras/performances do coreano foram feitas para ela, que tocou nua, ou suspensa por cabos, ou com o espigão do instrumento pressionando o peito nu de um homem deitado no chão, ou até uma obra que ao invés da violoncelista tocar o violoncelo, é o espectador quem toca a violoncelista. Ela ficou famosa em programas de auditório norte-americanos como a “violoncelista topless”.
    Na foto ela está apresentando uma obra de Paik — compositor recém-falecido que foi também o pai da videoarte (e de mais um monte de coisas, até o "vídeo sem câmera").

    Foto 3 — Inês Baptista: Uma jovem portuguesa que fez a tatuagem por causa da foto do Man Ray. Ela foi modelo para uma série de filmes que têm o artista como tema. Ela tem também um interessante blog com sotaque luso (de onde roubei esta foto): Casaco Amarelo.

    Foto 4 — Emilia Fox (1974): Interpretando a violoncelista Dorota, no filme O Pianista, de Roman Polanski. A cena que eu acho a mais bonita de todo o filme: após sofrer bastante nas mãos dos nazistas, o pianista se refugia na casa de sua amada, que já está casada com outro. Após dormir e repousar de verdade, ele acorda de manhã e a vê tocando a primeira suíte de Bach. Infelizmente não consegui uma imagem desta cena.

    Foto 5 — Iris Regev: Por último, mas não a menos bela. Mus(ic)a israelense de lindos cabelos compridos. Um dos mais bem guardados segredos da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (não o único). Música para os olhos, um dos melhores espetáculos para se ver na Sala São Paulo. É também uma ótima violoncelista.

    P.S.- Junto com este post, inauguro a última sessão de links do Blog: Vestais (“Quão apropriado”, para citar o Diabo das tiras do Otacílio).

    22.4.06

    O Som do Violoncelo

    Jean-Guihen Queyras e Osesp


    Violoncelista espetacular oriundo do Ensemble InterContemporain, de Pierre Boulez. Responsável pelas gravações dos maravilhosos Concerto para violoncelo e Orquestra, de György Ligeti, e Messagesquisse, do próprio Boulez.
    Queyras solará a Sinfonia para Violoncelo e Orquestra, de Benjamin Britten — compositor que provou a possibilidade de ser tonal, dialogar com o passado e ainda assim soar completamente moderno.

    Quinta (27) e Sexta (28) às 21h, e sábado (29) às 16h30, na Sala São Paulo.

    Nos próximos dias falarei também sobre As Formas do Violoncelo...

    18.4.06

    Ready-made/Constelação com duas Estrelas/Citações para Franz Weissmann

    Trinta raios se tornam um pelos buracos do eixo,
    vazios que os unem para o uso da roda;
    O uso de barro na moldagem de jarras
    Vem do vazio de sua ausência;
    As portas e janelas, numa casa,
    São usadas por seu vazio;
    Assim nos socorremos do que não há
    Para usar o que há.

    (Lao tse)



    Cesteiro que faz um
    cesto
    faz uma casa

    No oco do chapéu
    a cabeça

    No oco da roupa
    o corpo

    No grande balaio
    vedado a sopapo
    (casa)
    a mão na massa
    molda
    a pele coletiva
    do clã
    (alma)

    (poema de Décio Pignatari para o Calendário Philips, meses setembro/outubro, 1980 — ano em que eu nasci)

    (ver também a minha homenagem, o texto construtivista/desconstrutivista/construtivista de João Cabral de Melo Neto, e o texto de José Aloise Bahia — tudo sobre Weissmann)

    16.4.06

    Leif Segerstam rege Osesp


    Competente maestro finlandês apresentará a música de seu país. A fase final de Jean Sibelius (Tapiola e a Sinfonia n° 7 em um movimento); o Cantus arcticus (para pássaros pré-gravados e orquestra) de Einojuhani Rautavaara; e estréia mundial de uma obra do próprio Leif — a Sinfonia n° 149, que tem um subtítulo extraordinário: “14,9,149:14,9...! = I feel, no, I feel so: Oh death, suffering...!”
    É sempre um privilégio escutar uma estréia sob a batuta do próprio autor. Espero que seja tão interessante quanto o extravagante título.
    Quinta (20) e sexta (21) às 21h, e sábado (22) às 16h30, na Sala São Paulo.

    9.4.06

    Homenagem a Jean-Luc Godard ou Des-homenagem aos godardianos



    (poema de Paulo Fernando de Castro)

    (godard e one + one)

    6.4.06

    Da areia também se vê o mar


    Recital de Antonio Eduardo focado principalmente em compositores que têm uma relação de amizade com o pianista. Entre eles, importantes nomes da música brasileira, como Gilberto Mendes (Warun Blues), Jorge Antunes (Sambinha do Antonio Eduardo) e Silvio Ferraz (Green Eyed Bay, para piano e computador).
    Ele também tocará Três vazios de Lao Tse, composta por Marcos Câmara. Os tais vazios de Lao Tse também serão tema de um dos próximos posts deste blog — na verdade já são, vide o próprio título (tacet).
    Domingo, dia 9, às 11h30, no Centro Cultural São Paulo, de graça.

    2.4.06

    Samuel Beckett, Dario Argento e Família Vilanova


    Samuel Beckett 100 Anos

    O projeto terá várias atrações, todas no Sesc Santana. Haverá 15 montagens teatrais (de Lenerson Polonini, entre outros), palestras (como a do ator, diretor e tradutor Rubens Rusche sobre as obras de Beckett para a TV, por exemplo), e outras coisas, vale a pena dar uma olhada na programação.
    Na abertura, terça-feira, dia 4, às 20h, será exibido o filme Film, de 1965, dirigido pelo Beckett, estrelado por Buster Keaton. O ator foi uma das principais referências para o autor construir o lado clown de seus personagens. A projeção será acompanhada por intervenção sonora de Wilson Sukorski. Uma das características marcantes do filme é que, apesar de não ser mudo, o único som é a fala de um figurante: – Sshhhh! Provavelmente será um equívoco modificar esta característica tão beckettiana, mas levando-se em conta as trilhas do Sukorski para as peças do Beckett dirigidas pelo Polonini, que tendiam ao quase silêncio absoluto, com pouquíssimas intervenções, pode ser que o resultado seja interessante.
    Após o Film, haverá um debate com Gerald Thomas, Célia Berretini, José Roberto Sadek e Luis Fernando Ramos. O pior que é justo ao mesmo tempo em que terá o filme e debate do Ivan Cardoso. Não sei como escolher qual dos dois amiguinhos do Hélio Oiticica e discípulos de Haroldo de Campos, Augusto de Campos e Décio Pignatari irei escutar.

    P.S.- Algumas referências de Beckett na internet para ver, ler, escutar, assistir, pesquisar, fazer downloads, etc...
    Não por acaso, nos dois melhores sites que eu conheço:
    The Modern Word:
    Site Apmonia com tudo, tudo mesmo.
    Ubu Web:Na própria home tem atualmente uma foto do Beckett. Obras sonoras e também Film e Not I.


    Profondo Rosso

    Recém-comprei nas bancas a Cinemonstro de março, com o DVD da obra-prima de Dario Argento: Profondo Rosso, ou Deep Red, ou Prelúdio Para Matar, que é a tradução brasileira. Estou avisando para os interessados poderem comprar antes que seja recolhido das bancas.
    Para quem não conhece, é um dos maiores filmes de terror já feitos: roteiro de suspense cheio de mistérios e reviravoltas, montagem excelente, seqüências aterrorizantes, personagens macabros e assustadores, cenas violentíssimas, imagens lindas, trilha sonora da banda de rock progressivo italiana Goblin, e muito muito estilo cinematográfico.
    A história é sobre um pianista de jazz (interpretado por David Hemmings, do Blow Up do Michelangelo Antonioni) que investiga (ao lado de uma repórter) uma série de brutais assassinatos que vão acontecendo ao seu redor. Profondo Rosso não está na lista que eu coloquei aqui outro dia, mas mais do que mereceria estar.

    Família Vilanova

    O site Sinal de Transito editado pelo Luis Vilanova e realizado pela Thais Vilanova foi reformulado – novo layout, nova programação, seguindo os padrões da web de acessibilidade (web standards), ao contrário dos códigos maçarocas que reinam por aí. Se você se interessa por trânsito (ou não), confira.