"1845
EUA, 1943, Brasil (1964, 2019,...)"
nunca mais
Foi uma vez: eu refletia, à meia-noite erma e sombria,
a ler doutrinas de outro tempo em curiosíssimos manuais,"****
"1933-4
Alemanha"
"1936
Rio de Janeiro
Olga y él
A la cabeza de su ejército rebelde, Luis Carlos Prestes había atravesado
a pie el inmenso Brasil de punta a punta, ida y vuelta desde las
praderas del sur hasta los desierr tos del nordeste, a través de la
selva amazónica. En tres años de marcha, la Columna Prestes había
peleado contra la dictadura de los señores del café y del azúcar sin
sufrir jamás una derrota. De modo que Olga Benárío lo imaginaba
gigantesco y devastador. Menuda sorpresa se llevó cuando con
oció al gran
capitán. Prestes resultó ser un hombrecito frágil, que se ponía
colorado cuando OIga lo m'rraba a los ojos. Ella, fogueada en las luchas
revolucionarias en Alemania, militante. Sin fronteras, se vino al
Brasil. Y él, que nunca había conocido mujer, fue por ella amado y
fundado.
Al tiempo, caen presos los dos. Se los Ilevan a cárceles diferentes.
Desde Alemania, Hitler reclama a Olga por. judía y comunista, sangre
vil, viles ideas, y el presidente brasileño, Getulio Vargas, se la
entrega. Cuando los soldados llegan a buscarla a la cárcel, se amotinan
los presos. Olga acaba con la revuelta, para evitar una matanza inútii, y
se deja llevar Asomado a la rejilla de su celda, el novelista
Graciliano Ramos la ve pasar, esposada, panzona de embarazo.
En los muelles, la espera un navío que ostenta la cruz esvástica. El
capitán tiene órdenes de no parar hasta Hamburgo. Allá Olga será
encerrada en un campo de concentración, asfixiada en una cámara de gas,
carbonizada en un horno.
(263, 302 y 364)"
1940
«i
É conhecida a história daquele autômato que teria sido construído de tal maneira que respondia a
cada lance de um jogador de xadrez com um outro lance que lhe assegurava a vitória na partida.
Diante do tabuleiro, assente sobre uma mesa espaçosa, estava sentado um boneco em traje turco,
cachimbo de água na boca. Um sistema de espelhos criava a ilusão de uma mesa transparente de
todos os lados. De fato, dentro da mesa estava sentado um anãozinho corcunda, mestre de xadrez, que
conduzia os movimentos do boneco por meio de um sistema de arames. É possível imaginar o
contraponto dessa aparelhagem na filosofia. A vitória está sempre reservada ao boneco a que se
chama "materialismo histórico". Pode desafiar qualquer um se tiver ao seu serviço a teologia, que,
como se sabe, hoje é pequena e feia e, assim como assim, não pode aparecer à luz do dia.
(...)
vii
Fustel de Coulanges recomenda ao historiador interessado em reviver uma
época que esqueça tudo o que sabe sobre fases posteriores da história.
Impossível caracterizar melhor o método com o qual rompeu o materialismo
histórico. Esse método é o da empatia (Einfühlung). Sua origem é a
inércia do coração, a acedia, que desanima de apropriar-se da autêntica imagem histórica, em seu relampejar fugaz. Para os teólogos medievais, a acedia
era o primeiro fundamento da tristeza. Flaubert, que a conhecia,
escreveu: “Peu de gens devineront combien il a fallu être triste pour
ressuciter Carthage”. A natureza dessa tristeza se tornará mais clara se
nos perguntarmos com quem o investigador historicista estabelece
propriamente uma relação de empatia. A resposta é inequívoca: com o
vencedor. Ora, os que num momento dado dominam são os herdeiros e todos
os que venceram antes. A empatia com o vencedor beneficia sempre,
portanto, esses dominadores. Isso já diz o suficiente para o
materialista histórico. Todos os que até agora venceram participam do
cortejo triunfal, como de praxe. Eles são chamados de bens culturais. O
materialista histórico os observa com distanciamento. Pois todos os bens
culturais que ele vê têm uma origem sobre a qual ele não pode refletir
sem horror. Devem sua existência não somente ao esforço dos grandes
gênios que os criaram, mas também à servidão anônima dos seus
contemporâneos. Nunca houve um documento da cultura que não fosse
simultaneamente um documento da barbárie. E, assim como o próprio bem
cultural não é isento de barbárie, tampouco o é o processo de
transmissão em que foi passado adiante. Por isso, o materialista
histórico se desvia desse processo, na medida do possível. Ele considera
sua tarefa escovar a história a contrapelo.
(...)
xvi
O materialista histórico não pode renunciar ao conceito de um presente
que não é transição, mas pára no tempo e se imobiliza. Porque esse
conceito define exatamente aquele presente em que ele mesmo escreve a
história. O historicista apresenta a imagem "eterna" do passado, o
materialista histórico faz desse passado uma experiência única. Ele
deixa a outros a tarefa de se esgotar no bordel do historicismo, com a
meretriz "Era uma vez". Ele fica senhor das suas forças, suficientemente
viril para fazer saltar pelos ares o continuum da história.
(...)
xviii
"Os insignificantes cinco milênios do Homo Sapiens" , diz um biólogo da nova geração, "correspondem , em comparação com a história da vida orgânica da Terra, a qualquer coisa como vinte e quatro horas. E toda a história da civilização humana, se a inseríssemos nesse registro, mais não seria do que um quinto do último segundo da última hora". O Agora (Jetztzeit), que, como modelo do tempo messiânico, concentra em si, numa abreviatura extrema, a história de toda a humanidade, correspondente milimetricamente àquela figura da história da huminidade no contexto do universo.»**
1945
Animal Farm (George Orwell)
"Todos os animais são iguais, mas alguns são mais iguais que outros. [Naro?]
(...)
Aqueles que renunciam à liberdade em troca de segurança acabarão sem nem uma nem outra. [Bolsodoria?]"
1964
Rio de Janeiro
«Hay nubes sombrías»,
dice Lincoln Gordon:
—Nubes sombrías se ciernen sobre nuestros intereses económicos en Brasil…
El presidente João Goulart acaba de anunciar la reforma agraria, la
nacionalización de las refinerías de petróleo y el fin de la evasión de
capitales; y el embajador de los Estados Unidos, indignado, lo ataca a
viva voz.
Desde la embajada, palabras de dinero caen sobre los envenenadores de la
opinión pública y los militares que preparan el cuartelazo.
Se difunde
por todos los medios un manifiesto que pide a gritos el golpe de Estado.
Hasta el Club de Leones estampa su firma al pie.
Diez años después del suicidio de Vargas, resuenan, multiplicados, los
mismos clamores. Políticos y periodistas llaman al uniformado mesías
capaz de poner orden en este caos. La televisión difunde películas que
muestran muros de Berlín cortando en dos a las ciudades brasileñas.
Diarios y radios exaltan las virtudes del capital privado, que convierte
los desiertos en oasis, y los méritos de las fuerzas armadas, que
evitan que los comunistas se roben el agua. La Marcha de la Familia con
Dios por la Libertad pide piedad al Cielo, desde las avenidas de las
principales ciudades.
El embajador Lincoln Gordon denuncia la conspiración comunista: el
estanciero Goulart está traicionando a su clase a la hora de elegir
entre los devoradores y los devorados, entre los opinadores y los
opinados, entre la libertad del dinero y la libertad de la gente.
(115 y 141)"
13/03/2016
São Paulo
São Paulo
Goldman (Ex-governador de São Paulo e integrante da Executiva Nacional do PSDB)
https://vimeo.com/296908072
25 de Outubro de 2018
itália roda em círculos
(em todos os vértices possíveis)
rodando Riviera
"Mussolini, quem diria, tinha mais educação
por Egênio Bucci
(
Se você acredita sinceramente que defende a liberdade, este artigo foi escrito para os seus olhos.)
Em política,
palavras são atos. Falar é fazer. A liderança política age na linguagem
e, pela palavra, agrega ou divide seus pares e seus seguidores. Disso
sabemos, certo?
Talvez não. Apoiadores de Bolsonaro (refiro-me àqueles
minimamente ilustrados) desprezam as palavras dele. Acham que seus
pronunciamentos infamantes não têm importância. Acham que poderão
controlá-lo depois de eleito, que farão dele um fantoche a serviço das
causas liberais. Estão enganados.
Ainda que seja tarde,
olhemos, uma vez mais, para as palavras do deputado. No domingo, num
discurso transmitido por celular em que ele se dirigiu, à distância, a
manifestantes de rua, ele disparou novas saraivadas de descalabros.
Alguns repetidos, alguns novos. O tom não é o de um candidato a
presidente de uma República democrática, mas o de alguém que se lança
como futuro senhor de todos os poderes, com atribuições plenas de fazer
leis, de aplicá-las e depois executar as penas, de banir quem quiser e
de prender quem bem entender.
Exemplo: “Esses marginais vermelhos serão banidos de nossa
Pátria”. Outro exemplo: “Essa Pátria é nossa. Não é dessa gangue que tem
a bandeira vermelha e tem a cabeça lavada”.
Em outra passagem, roga sua condenação prévia contra o que vem
chamando grosseiramente de “ativismo”: “Bandido do MST, bandido do MTST,
as ações de vocês serão tipificadas como terrorismo! Vocês não levarão
mais o terror ao campo ou à cidade. Ou vocês se enquadram e se submetem
às leis, ou vão fazer companhia ao cachaceiro lá em Curitiba!”.
Em transe de onipotência, anuncia que seu adversário nesta
eleição também será preso. Dirigindo-se a Lula, que “vai apodrecer na
cadeia”, assegura: “Aguarde, o Haddad vai chegar aí também. Mas não será
para visitá-lo, não. Será para ficar alguns anos ao seu lado. Já que
vocês se amam tanto, vocês vão apodrecer na cadeia”.
Com que autoridade ele fala isso? Que mandato imagina que
receberá das urnas? O de xerife nacional? O mais chocante, porém, não é
isso. O mais chocante é que seus apoiadores - alguns cultos, eruditos -
nem se incomodam. Fingem que tais pronunciamentos não terão
consequências para a ordem democrática ou para o tratamento respeitoso
entre os compatriotas. Fingem que o presidente da República não tem mais
o dever da urbanidade. O que se passa?
Mas a declaração mais escabrosa de Jair Bolsonaro no domingo não
foi nenhuma dessas. O pior insulto não teve como alvo a integridade
física de seus desafetos, mas a liberdade de imprensa. E outra vez ficou
o dito pelo não dito. Ninguém protestou.
No momento em que conclamava seus cabos eleitorais a seguirem
“mobilizados” até o dia 28, ele descreveu as condições ideais do que
entende por um clima de eleições democráticas: “Sem mentiras, sem fake
news, sem
Folha de S.Paulo!”. E prosseguiu: “Nós ganharemos essa guerra. Queremos a imprensa livre, mas com responsabilidade. A
Folha de S.Paulo é o (sic) maior
fake news do Brasil. Vocês não terão mais verba publicitária do governo. Imprensa livre: parabéns! Imprensa vendida: meus pêsames!”
Sim, você leu corretamente. Ele celebra a “imprensa livre”,
desde que
essa imprensa siga o que ele, Bolsonaro, entende como
“responsabilidade”. Pelo que lemos com absoluta clareza em seus gritos
bélicos - bélicos, sim, pois o candidato se refere à eleição como uma
“guerra” -, a “imprensa livre” terá direito de existir no governo dele,
mas deve ser também uma imprensa que ele considere “responsável”. A
Folha de S.Paulo, bem, essa aí ele parece considerar “imprensa vendida”. Por quê? Ele não explica. Talvez porque a
Folha
tenha publicado reportagens sobre as declarações de sua ex-mulher, que,
no passado, se disse ameaçada por ele, e sobre mecanismos de difusão de
notícias fraudulentas no WhatsApp que o teriam favorecido. De todo
modo, o orador não esclarece nada.
Em seu telecomício anti-imprensa, o candidato extrapolou. Ameaçou a
Folha
com o corte futuro de “verba publicitária do governo”. Nesse ponto,
suas inclinações pouco democráticas se escancaram. A partir de uma
distorção da nossa República - a profusão de dinheiro público no mercado
anunciante -, promete produzir uma segunda distorção, muito mais
deletéria.
Para entender. Você sabe que os recursos da União, dos Estados,
dos municípios e das empresas estatais, todos somados, totalizam bilhões
de reais. A conta exata é impossível, pois os dados não são abertos.
Mesmo assim, é possível afirmar que o maior anunciante do mercado
publicitário no Brasil é o dinheiro público. Trata-se de uma enorme
distorção. Diante disso, em vez de prometer mudar o quadro, Bolsonaro
promete tirar proveito da distorção para punir os jornais que o
criticam. E faz isso abertamente, sem a menor cerimônia. De queixo
empinado, atropela o dever que teria, como administrador público, de
agir conforme o princípio constitucional da impessoalidade. Ignora que
ao servidor público não é facultada discricionariedade de comprar
espaços publicitários conforme suas preferências partidárias. Ele não
está nem aí. Seria uma ilegalidade, mas ele não liga.
Nem Benito Mussolini se atreveria a tanto. No dia 27 de janeiro
de 1924, já primeiro-ministro, na abertura do Congresso de Imprensa
Fascista e Philofascista, ele declarou que “a liberdade de imprensa não é
somente um direito, mas um dever” (para quem duvida há uma nota a
respeito na primeira página do jornal
A Noite de 28 de janeiro de 1924). Nada de errado com a frase. O primeiro dever da imprensa é mesmo ser livre.
Mussolini nunca foi um liberal, mas, ao menos durante um tempo,
segurava o facho. Tinha alguma educação. Podia até pensar que o primeiro
dever da imprensa era elogiá-lo, mas maneirava no discurso. Sabia que a
liberdade tinha defensores atentos. E hoje"***
115. Corrêa, Marcos Sá,
1964 visto e comentado pela Casa Branca, Porto Alegre, LPM, 1977.
141. Dreifuss, René Armand,
1964: A conquista do Estado. Ação política, poder e golpe de classe, Petópolis, Vozes, 1981.
263. Lima, Louren,co Moreira,
A coluna Prestes (marchas e combates), São Paulo, Alfa-Omega, 1979.
302. Morais, Fernando,
Olga, São Paulo, Alfa-Omega, 1979.
364. Ramos, Graciliano,
Memória do cárcere, Rio de Janeiro, José Olímpio, 1954.
****The Raven: Edgar Poe traduzido por Milton Amado
**Benjamin, Walter.
O anjo da história. Belo Horizonte, Autêntica, 2012.
Galeano, Eduardo.
Memória del fuego (iii). El siglo del viento. Montevideo, Ediciones del Chanchoto, 1987.
***Estado de São Paulo
*Wagner, Richard.
Tannhäuser WWV 70. Leipzig: C.F. Peters, 1920.