Próximo do final do Segundo Império, quando o regime abranda sua pressão, a teoria da
arte pela arte perde prestígio.
[J 47, 3]
[...]
Deve-se valorizar de maneira decisiva o esforço de Baudelaire para captar o olhar no qual se
apagou a magia do longínquo (cf. “L’amour du mensonge” <OC I, pp. 98-99>). Em
relação a isto, minha definição da aura como a distância do olhar que desperta no objeto
observado.35
[J 47, 6]
[...]
O fragmento “Le monde va finir” (“Fusées”, XXII) contém, nas malhas de uma visão
apocalíptica, uma crítica terrivelmente acerba da sociedade do Segundo Império (talvez
inspirada, em alguns pontos, na idéia nietzscheana do “último homem”). Esta crítica
possui certos traços proféticos. Sobre a sociedade fritura escreve Baudelaire: “Nada, em
meio aos devaneios sanguinários, sacrílegos ou antinaturais dos utopistas, poderá comparar-se a seus resultados positivos ... os governantes serão forçados, para guardar o poder e criar
ema aparência de ordem, a recorrer a meios que fariam estremecer nossa humanidade atual, no entanto tão endurecida?... A justiça, se é que nesta época afortunada pode ainda
existir uma justiça, interditará os cidadãos que não souberem fazer fortuna... Tal época
pode estar bem próxima, quem sabe se já não chegou, e se a grosseria de nossa natureza não é o único obstáculo que nos impede de nos apercebermos da atmosfera na qual já respiramos?” Ch Baudelaire, Œuvres, vol. II, pp. 640-641 <OC I, pp. 665-667>.
[J 47a, 3]
“Em resumo, diante da história e diante do povo francês, a grande glória de Napoleão III
terá sido provar que o primeiro recém-chegado pode, apoderando-se do telégrafo e da
Imprensa nacional, governar uma grande nação. Imbecis são os que pensam que semelhantes
coisas podem se realizar sem a permissão do povo.” Ch. B., Œuvres, vol. II, p. 655 <OC I, p 692> (“Mon cœur mis à nu”, XLIV).
[J 48, 1]
[...]
A verdade, por ser múltipla, náo é dupla.” Ch. B., Œuvres, vol. II, “Salon de 1846”, p. 63 <OC II, p. 4l6> (“Aux bourgeois”).
[J 48, 3]
35 Cf. GS I, 646-647 e nota; W. Benjamin. “Sobre Alguns Temas em Baudelaire”, OE III, p. 140 e nota (R.T.; w.b.)
BENJAMIN, Walter (1892-1940). Passagens / Das Passagen-Werk / Walter Benjamin;
edição alemã de Rolf Tiedemann; organização da edição brasileira Willi
Bolle; colaboração na organização da edição brasileira Olgária Chain
Féres Matos; tradução do alemão Irene Aron; tradução do francês Cleonice
Paes Barreto Mourão; revisão técnica Patrícia de Freitas Camargo;
pósfácios Willie Bolle e Olgária Chain Féres Matos; introdução à edição alemã (1982) Rolf Tiedemann. — Belo Horizonte: Editora UFMG; São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2009.